quinta-feira, 30 de setembro de 2010
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Uma crônica de Rubens da Cunha
Foi numa ilha, mais ao norte de onde vivo. Quer dizer, seria uma ilha, se há muito os homens, em vez de fazer um aterro, tivessem feito uma ponte para chegar lá. Com o aterro, os homens do passado mataram o conceito de ilha, talvez os homens do futuro o ressuscitem de novo. Alguns dizem ser muito caro, outros dizem que casas afundarão se a natureza voltar a ser o que era, mas isso é outro assunto. O que quero dizer é que nessa ilha, ou nessa ilha que foi um dia, num domingo qualquer, bem cheio de chuva, a amizade nevou. Foi um acontecimento que beira o estranho, que margeia mesmo o fantástico, a amizade de quatro pessoas nevou sobre e dentro de seus corpos. A primavera já tinha chegado. Esperava-se o sol, daqueles que habitam as canções, só que ao norte de onde vivo, a chuva é uma constante, um desabamento que as nuvens entregam às pessoas como uma segunda pele. Nesse domingo não foi diferente. Tudo o que se poderia fazer numa ilha nos foi proibido: andar pela praia, visionar pessoas andando pela praia, invejar surfistas, recolher conchas como se fossem artefatos salvadores, subir em pedras, desvendar a saudade de uma praia, a grandeza de outra. Talvez até semear-se, ou afundar-se na areia, feito caranguejo, numa enseada próxima. Coisas banais, mas que somente o sol tem a chave para libertar. É como se a infância desses atos fosse liberta apenas pelo calor, pelos amarelos e azuis plenos de uma dia seco. A chuva traz o recolhimento, traz redes, cobertores, risos e a comunicação ampla de amigos que se reúnem para comer, beber, e falar de fronteiras, bordas, idas e vindas ao passado, ao futuro, às escolhas. Falam de perdas e acertos, enquanto bebem uma caipirinha cuja receita aprenderam na véspera: a caipirinha nevada. E bebem, e bebem e falam e a neve com sabor de vodca, limão e leite condensado lhes invade garganta, estômago, veias, alma. E nevam-se como se fossem crianças no Alasca, na Groenlândia ou alguma ilha na Antártica. Olham o mar à distância, lamentam-se um tanto diante da impossibilidade de não poder sair de casa, mas é mais para manter o discurso da normalidade, mais para saberem-se comuns, algo que não são, não depois de nevar, extensos, intensos, copo após copo. Vento e chuva acasalavam-se lá fora. Eles acasalavam-se em suas palavras e vinculavam-se ainda mais dentro daquela casa. As horas estendem-se como todas as horas. Porém, dentro deles, algo andava com mais vagar, com mais compadecimento por todos aqueles instantes que logo acabariam. Logo eles teriam que voltar à segunda-feira, às vidas individuais, logo teriam que sair da ilha, e serem continente de novo. É natural, disseram-se. E combinaram outros encontros, outras neves doces servidas em taças. E preencheram-se com algo raro nesses tempos de agora: uma amizade nevada.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
BIENA 11 - Gil Vicente - eu mantando.
BIENAL 7 - Fernando Lindote
BIENAL 3 - NUNO RAMOS - TELAS "pintadas" pelos urubus
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Série andanças & amigos 3
Série andanças & amigos 2
Série andanças & amigos
Kasimir Malevich (1878-1935)
OPUS 1
Aqui a língua do salmão
aqui as cinzas do Espírito
aqui a nuvem equilibra o líquen
aqui a enciclopédia do cíclope
aqui o caqui ao lado do cabúqui
aqui a linha do trem é invisível
aqui o mar é de lençóis
aqui o açúcar não se molha no chuveiro
aqui a sombra de Johann Sebastian Bach
aqui o adágio atravessa o muro
OPUS 2
Aqui o relógio de Anton Saupp
aqui os lençóis molhados de mar
aqui a enciclopédia do salmão
aqui a ilegível nuvem e o coqueiro
aqui o líquen na língua
aqui as cinzas de Picasso
aqui o piscar do Espírito
aqui o cabúqui enquanto durmo
aqui uma linha de Hokusai na praia branca
aqui o adágio atravessa o muro
Fernando José Karl
70 anos da morte de Walter Benjamin
Walter Benjamin suicidou-se em 26 de setembro de 1940 em Port Bou, na fronteira entre França e Espanha, costa catalã. Benjamin fugia do nazismo, tentava a todo custo seguir para nova yorque, mas tev seu visto retardado por um dia. Um dia apenas não foi suficiente para impedi-lo de abandonar a estrada. Lembrar-se: "todo documento de cultura é também um documento de barbárie" , escreveu W. B em suas teses sobre o conceito de história.
sábado, 25 de setembro de 2010
Texto dedicado ao Cristiano Moreira e à Patrícia
O processo de preparação do casco da barca, para ser usado como material que flutuasse nas águas marinhas, aperfeiçoou-se de maneira notável em princípios da brisa na cortina nevada ou no século II de nossa erva, por obra de um homem que estava anoitecido, rei do astrolábio e do cristal.
A arte de preparar o casco da barca passou logo à Grécia e dali às nuvens, de onde se difundiu a todo ancoradouro, tendo as pedras canoras do pensamento parte principal e ativa nessa difusão.
Fernando José Karl
Desvendar o site oficial
de Hilda Hilst
http://www.angelfire.com/ri/casadosol/hhilst.html
O último sopro de Hilda Hilst
David Moore, 1957
Esfinge ao sol, enquanto durmo.
Se eu acordasse agora, então o quê?
Um olho aberto, outro fechado,
a esfinge sonha com meus olhos.
Meus olhos nessa luminância
dos olhos da esfinge de cal.
Meus olhos são alísios, alívios
nos olhos da esfinge no pátio.
Esfinge apagando altas estrelas,
que depois meus olhos reacendem.
E por que esfinge, por que olhos?
Seria mais simples não haver vida
– nenhuma palavra –
Fernando José Karl
Nicholas Hughes, sem data
De aorcdo com uma peqsiusa
de uma uinrvesriddae ignlsea,
não ipomtra em qaul odrem as
Lteras de uma plravaa etãso,
a úncia csioa iprotmatne é que
a piremria e útmlia Lteras etejasm
no lgaur crteo. O rseto pdoe ser
uma bçguana ttaol, que vcoê
anida pdoe ler sem pobrlmea.
Itso é poqrue nós não lmeos
cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa
cmoo um tdoo.
Sohw de bloa.
Em busca do tempo perdido
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Em breve uma senhora aparecerá neste sítio
Uma crônica de Rubens da Cunha
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Poema de Cristiano Moreira
desenham a palavra móvel: moinho
hélices negativas de ébano
passeiam sem sair do lugar
letras vivas sobre a língua de vidro
deslizam descalças, dançam nuas
nos lábios distantes de casa
imagem parindo lugares
letras de línguas sobre o vidro
deformam a imagem nas lágrimas
dos olhos distantes da margem
imagem engolida no sonho.