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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Festival Internacional de Teatro de Objetos 8

POR MARCO VASQUES

GUARDA ZOOL – UM EXEMPLO DE NÃO-TEATRO

A maratona de espetáculos continua. Hoje é o último dia para se conferir o Festival Internacional de Teatro de Objetos. E o leitor precisa tomar cuidado com as armadilhas dos festivais. Sim! Os festivais são assim mesmo: muita coisa boa, um outro tanto de espetáculos bem elaborados e, como não poderia faltar, alguns espetáculos desorbitados, ruins e fora de contexto. Guarda Zool é o patinho feio do evento. É o patinho feio porque é um teatro de superfície e apresenta o exercício da mesmice. Não se consegue entender como a curadoria selecionou o espetáculo da companhia paulista Teatro das Coisas. São vários os motivos para que ele não fosse selecionado. Contudo, o principal é que Guarda Zool não é um espetáculo de Teatro de Objetos, portanto, não faz sentido estar num festival de Teatro de Objetos. O ator no Teatro de Objetos tem que emprestar a alma [anima] ao objeto. O ator é transmissor da ação. É o objeto que é levado ao status de personagem. Ele é o eixo-motor da ação dramática, do enredo, da fábula ou da alegoria. Em Guarda Zool não há fabulação dos objetos. Manipulação e objetos ficam em segundo plano para que os atores se exibam numa linguagem televisiva e cheia de clichês. Imperam o humor fácil, as brincadeiras ingênuas e a ausência de um tecido poético. A dramaturgia é confusa como festa de criança. Há uma tentativa de dialogar com imagens já universalizadas no in/consciente do público como as famosas cenas de Cantando na Chuva e Tubarão. Há também a referência aos clássicos infantis Chapeuzinho Vermelho e Os Três Porquinhos, mas a tentativa das metáforas esbarra na falta de criatividade e a manipulação (baldes, toalhas e guarda-sol) é apagada pelo excesso de exibicionismo dos atores Cláudio Saltini e Riniere Guerra. O único momento em que a manipulação aparece com vida [anima] é na paródia ao filme Cantando na Chuva, porque em todas as outras tentativas a pseudo-manipulação deixa os objetos tão amorfos quanto sua natureza. Para não ficarmos no campo da abstração é bom dizer que a peça Grande Zool conta a história de dois amigos atrapalhados interpretados pelos atores Cláudio Saltini e Riniere Guerra. Ao chegarem à praia passam por uma série de situações (cair da cadeira, um roubar a cadeira do outro, um jogar água no outro, um molhar o outro) encenadas de maneira pueris. O trabalho dos atores lembra, em alguns momentos, o pastelão dos palhaços de circo, mas sem a ingenuidade, a ternura e a verdade inerente aos palhaços de circo. Se o leitor passar pela Universidade Federal de Santa Catarina, neste feriado, poderá assistir Zebra, 20 Minutos Sob o Mar e Entre Dilúvios [fotos abaixo], porque ninguém sai de casa para ver pobreza de linguagem, interpretações exageradas de atores exibicionistas, ausência de dramaturgia, um amontoado de clichês e tomar banho numa guerrinha tosca de água promovida pelos personagens-atores de Grande Zool; pequeno voo.

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