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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ANIVERSÁRIO

Metade do tempo consumada

ou ainda mais.

No peito, a mesma fome, a mesma sede

do menino, do rapaz.

O mesmo olhar perplexo

o mesmo

sem resposta

gesto crispado interrogando.

(É dezembro

e noite e abro a janela

e vejo outras janelas iluminadas.

Ali há vida, como na rua, como

no campo e no mar e nos velozes

aparelhos que cortam o espaço

e

talvez

noutros planetas e universos.

Como há incontáveis séculos e

provavelmente

amanhã. Mas tudo rápido

demais

que nem nos podemos saber

e partimos

no mesmo escuro em que chegamos.)

Perdi colegas, namoradas, cães.

Perdi árvores, pássaros, perdi um rio

e eu mesmo nele me banhando.

Isto o que ganhei: essas perdas. Isto

o que ficou: esse tesouro

de ausências.

(A noite avança e as janelas

aos poucos

se apagam. No silêncio

meu coração permanece

iluminado. Eis que trabalha, fiel,

mesmo quando revela

a si mesmo em breve imóvel

ou, depois, a última estrela

sem testemunhas

no céu final.)


Ruy Espinheira Filho

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