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quinta-feira, 28 de junho de 2012

MARINA MACHADO

NAVALHA VIDA

E olho para trás. Permaneço em um movimento sem fim.As águas me pegaram pelos pés. O coração me pegou quando ouvi o som do mar. Eu só queria pegar na sua mão. Mas o que a vida traça parece nos aviesar, e estamos em um combate direto: eu, você, o destino. O que eu quero não me quer. O que eu posso não me cabe no momento. Estranha trama onde o desejo não corresponde ao real. Estranha época, em que tudo é possível e me falta fôlego. Entrelinha fina, navalha vida: um cruzeiro sem mapa de chegada, a certeza da cadeira de balanço vazia, uma ruga a mais, um dia perdido no sonho, solidão. Pareço ir atrás de um coelho doce, que foge mais me quer,mas não me quer, mas me quer. E o que resvala são tábuas.Chapéus pendurados na imagem de todas as casas que passei. A coleção de sorrisos que abrigo na memória das teias,panos empoeirados, a certeza em palpitações, postais,frio e cinzas.As sobras de roupas e objetos que contém uma história e todas me contam ao pé do ouvido quando pouso os dedos no nanquin.Queria ter mãos a mais,para poder me escrever,remontar. Eu tenho medo do que vou traçar nesse imenso vazio. E tenho medo de temer quando a coragem se aliar ao fogo. Entro nas labaredas do tempo, do meu tempo:ruína, boboleta, bundas, caracol, abismos, avenidas, computador. E não posso pegar na sua mão.E não posso escrever essa prosa sozinha.São quilômetros de distância. São prédios que eu tenho que erguer sobre meus pés. E tudo me pára, pára em mim.Não me pertenço. Não pareço pertencer a lugar algum. Respiro fundo em laço, me lanço. RYANA GABECH

terça-feira, 26 de junho de 2012

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Cruzada com Renato Braz e Boca Livre

Imagens da Holanda - Sétima

quando guilherme acordou sob a ponte do timbé o fantasma do bota grande mijava amarelo no rio tijucas guilherme nesse tempo era andarilho nunca sabia se os passantes estavam vivos ou mortos ANTONIO CARLOS FLORIANO

INVERNO

Procuro os resquícios de uma menina que fui, mansa, solta, fresta de janela. Endureço com o ar gelado dos invernos sucessivos, cada vez mais casca, noite. Onde estão as borboletas refletindo partículas, o sopro da vela de aniversário, a folha verde em formas criadas, a clareza e o azul de um jardim gigante de segredos? Me indico e suplico alguma volta, que não curva, que não ascende nem pretende. Restituo presságios em camadas recobertas, descasco a superfície. Mas, por dentro, só, involucrada. Clarice Steil Siewert

sábado, 16 de junho de 2012

não seja tão literário mas se homero dante a bíblia são pura literatura por que não escrever abismos com violinos? (sei que minha geração ainda uma vez ironizou os programas do poder os discursos literários romantismos concretismos panfletarismos cabotinismos evoé nuvem cigana saudades cacaso & ana mais tantos que sonharam o fim das ditaduras naqueles roarin’70) e o consolo paralelo das construções diamantinas o la chair est triste, hélas! et j’ai lu touts les livres (não resolve mas me ilumino de imenso) última oportunidade a um cinquentão sem poética consistente mas com tanta vodka pela frente (se pudéssemos estrangular deus a branca medicina tudo tudo ironia na neblina) a prosa invadiu de vez a poesia com música ou sem melodia o verso não mais recamará ossos (parcas as parcas aspérrimos verbos e este ônibus seco) corais de luzes dolorosas navios do princípio do tempo encalhados nos esqueletos sem fim (ninguém virá na estrada para e se vier não há mais jeito refulgem ruíssimas retinas o anjo se drogou todo de estrelas) no fundo fosso a fera engole a ferida tremenda e no entanto a vida entanto o sonho (virá cantando aleluia pelo atalho todos desconhecem o mapa mágico rastro sagrado pedra angular tudo se esqueceu) última oportunidade hare hare AFONSO HENRIQUES DE GUIMARÃES NETO

domingo, 10 de junho de 2012

Poesia, livros e leitura em Navegantes

No último dia 30 foi realizada a premiação do Concurso Estadual de Poesia que homenageou o poeta Vicente Cechelero. A evento aconteceu no Contém Cultura e foi uma festança em torno das palavras. Na ocasião foram lançados os livros Palavra Navegante, resultado de uma série de oficinas de criação literária comparticipação do nosso amigo e poeta máximo Fernando Karl e Daniel Rosa dos Santos e o livro O mundo que você inventa, do estudante de 14 anos Leonardo Gazzoni de Irani S.C, vencedor da etapa estadual.
Plateia de estudantes da rede pública

Performance do clown Pacacoenco

Kits de Livros para os vencedores

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Turma do Colégio CAIC

Mariana Viel da Portonave entregando a bike para jovem poeta

A Gerente de Turismo, Esporte e Cultura da SDR de Itajaí, Cristina Bitencourt entrega certificado e kit de livros

Os livros publicados

Malabares com palavras e objetos

Mais Leitura, Contém Cultura

Roda de história

Leitura de poesia

Pintura ao ar livre

Oficina de Pau de Chuva

quinta-feira, 7 de junho de 2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

não leio horóscopo aos domingos domingos são dias imprevisíveis dias extremos de nadismo

sábado, 2 de junho de 2012

Herb Ritts, 1989




AS CONCHAS DA PRAIA DO CIBAO

Dedico à Míriam


As conchas, cravadas na pele da Virgem
– cravadas como se fossem as teclas de um piano marinho –
as conchas, catadas na praia do Cibao,
só elas sabem o que calam em seus invólucros calcários.
Cem mil vezes o poeta persa Imru'u-l-qays implorou
– que a Virgem como a neve y honda como la mar –
viesse apagar a sede que a nudez dela lhe causou,
sede que não se apaga nem com toda água da praia do Cibao.
O poeta persa Imru'u-l-qays implora mais uma vez,
eis que aparece por fim, com o silêncio caído a seus pés
– o rosto da Virgem meio escondido atrás do alaúde –
que traz, no seu pensamento que revivesce dourado,
– a nudez toda de uma árvore na chuva –
e o poeta persa Imru'u-l-qays conclui:
se eu não a tenho, ela me tem e sua piscina sacia
a sede que nas conchas da praia do Cibao havia.


Fernando José Karl