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A NÁDEGA
Após lavar toda a louça, uma grande e pesada felicidade a esbofeteia. Larga a esponja sem detergente no canto da pia. Estende o pano úmido sobre a louça fria. O dia respira. A cortina pendura um pouco de preguiça. Pensa subitamente na possibilidade de retirar uma de suas nádegas. Um compartimento de borracha será encaixado ao lado da outra nádega. Lá guardará coisas macias, papéis e uma pequena calculadora. Poderá encher a nádega de água em dias de muito calor, ou de areia ou terra em dias tensos. O precioso compartimento será seu solitário segredo. A possibilidade de subtrair uma parcela de seu corpo é o começo de um desejo de contabilizar perdas. Nesse sentido, poderá escolher passar os dias e as noites com ou sem sua nádega inflável. O compartimento de borracha poderá ser desinfetado e lavado facilmente, sendo ajustado em seu corpo como uma bolha portátil.
Raquel Stolf
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