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quarta-feira, 23 de março de 2011

Um poema de Celso de Alencar

Vive como imagem
por trás de meus olhos
a língua trêmula da irmã
mais velha de minha mãe.

Nas visitas dos domingos
não me permitiam a entrada
e eu aguardava ensaiando
pequenos passos pelo imenso
jardim da antiga
fábrica de chá.

Foi o acaso que colocou
em mim o cômodo
protegido pelas fortes
barras de ferro.

Minha mãe sentada
deitava seus olhos
sobre a irmã
que se via
nua completamente
mijando sobre a cama
e rindo apressadamente
feito louca.

Ainda que a claridade
fosse tênue
eu via a sua urina
espirrando de sua buceta colossal
e os seus dois peitos frouxos.

E minha tia ao ver-me
com seus olhos arregalados
mostrou-me a língua
da cor do corvo e
tombou como
uma árvore seca
deixando exposta a sua nádega encurvada.
E sob gritos que só
à loucura cabe
expulsou minha
mãe so quarto.

Do livro TESTAMENTOS

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