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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Lee Miller, 1939


Eu recebo zaúm na cave de meu crânio, zaúm que é raio de juízo feito um assopro doce, solto, raio que foge com o perfume dos navios que perdemos de vista.

O que eu quero, o que eu hablo, súbito acontece: estou pobre de espírito e, no mais oco de mim, soa o mantra de certa língua reduzida às palavras limpas de um cerimonial arcaico.

Calo-me, de hábito, porque ignoro tudo na arte em que sou exímio. Recurso para acuar Occam: coloca-se o arqueiro em posição de óbvia distração.

Resguardai-me ó árvores altíssimas, resguardai-me, que o vazio é um tango em mim: cada palavra é uma telha clara sobre o turvo pensamento. Antes que o tédio apodreça a música que escorre por meus flancos, penso que sou o pescoço longo de um coqueiro coroado co'a mais fina das chuvas.

Anahad shabad: aquilo que se ouve e não tem som: o som sem som: essência do Deus.

O movimento hierático de nossa clara língua: o exprimir das ideias nas palavras inevitáveis: om nagô abismo nô gongo om: se escuto música é porque ainda não me enterraram.

O sicômoro revivesce dourado na nudez do pensamento: e para curar-me deste sicômoro de fora necessito cultivar este sicômoro dentro: pois sabem todos que em matéria de conceito o não-conceito é bem mais poderoso que todos os desígnios conscientes: a renúncia dá: dá a força inesgotável do simples: sou servo, insisto, servo da fonte, não escravo do artifício.

Fernando José Karl


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