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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

DE TEATRO EM TEATRO

POR MARCO VASQUES
Publicado no jornal Notícias do Dia [24/09/2012]

A coisa é simples e mais ou menos assim: chega em casa, toma banho, veste a primeira camisa que estiver à frente, coloca a primeira calça limpa que achar. Procura meias e sapados, também sem muita frescura na escolha. Depois se olha no espelho para ver se o corpo e a cabeça estão intactos diante do exercício de 15 minutos. A rotina é semanal. Tem semanas que chega a ir ao teatro mais vezes que os próprios dias da semana. Em resumo, para ele a atividade de frequentar o teatro é vital, necessária e tão natural, que não consegue entender o comportamento de algumas pessoas quando vão a um e outro espetáculo.
Pelo menos duas vezes a cada sete dias se dirige ao Teatro Armação, ao Teatro da Ubro, ao Teatro do SESC-Prainha, ao Teatro da Igrejinha da UFSC, ao Teatro Álvaro de Carvalho, à Casa das Máquinas, à sala do Centro de Artes da UDESC, às ruas da cidade, ao Teatro Pedro Ivo, à Célula Cultural, ao centro de eventos da UFSC ou ao Teatro Ademir Rosa; enfim, onde a cena acontece, costuma se fazer presente. Não tem preconceito algum. Vai da comédia ao drama com a expectativa do gozo estético ou a perspectiva de encontrar alguma poesia que dialogue com a carne e a mente.
No entanto, o teatro, para ele, começa muito antes do teatro, sobretudo nos espaços ditos mais nobres, menos alternativos. Onde, normalmente, as “grandes estrelas” se apresentam. Nestes espetáculos, em que se paga a peso de ouro ou se disputa uma cortesia com o fervor de cães famintos à frente de um bife acebolado, a cena externa, em muitos casos, supera o que se vê no tablado, pois existe um tipo de gente que não vai ao teatro para assistir aos outros, mas para ser assistida.
Então a coisa é assim também: muito laquê no cabelo – daqueles que nem o vento sul consegue abalar -, muita base, batom, brinco de ouro, óculos Dior, bolsa Louis Vuitton e Prada. Ou seja, um mundo de gente que acha bonito se pavonear sem se dar conta do limite entre a beleza e o senso do ridículo. Nestas noites, os teatros são tomados pelo estilo Barbie – com silicone e botox - maquiada por criança. Soma-se aí muita empáfia e burrice; temos o tipo de personagem que brilha mais que qualquer peça global. Teatro não é evento de madame, que compra roupa nova e tudo achando que está indo pro casamento da sobrinha. Fiquei tão puto. Aproveitei o anonimato, claro, duas madames daquelas jamais conheceriam um crítico de teatro. Como um crítico de teatro se nem temos teatro em Florianópolis? Quanto mais dois críticos? Fui pra cima: a senhora conhece o nome de uma ator da cidade? De um diretor? Qual o último espetáculo feito aqui que as senhoras assistiram? O silêncio permaneceu. Estava tudo dito.
Dia deste ele aproveitou o anonimato e se imiscui na conversa de duas madames que difamavam o teatro local. Como? Teatro em Florianópolis? Existe? Só porcaria! Cruzes! Nesse momento ele foi para cima delas – não o julguem um tarado, por favor: qual o último espetáculo feito aqui a que assistiram? Conhecem o nome de algum ator? De um diretor? Conhecem... O silêncio permaneceu. Estava tudo, nada, dito.

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