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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Uma crônica de Rubens da Cunha

ÁGUA MINERAL

Eu e essa minha mania de ler rótulos! Eu vivia bem na ignorância sobre a água que bebia. Insípida, incolor e inodora. O que valia era os três adjetivos aprendidos na escola e que toda água deveria ter, ou ser (no nosso tempo já não há muita separação entre uma coisa e outra). Pois eu estava bebendo uma água mineral, na mais pura inocência, quando comecei a ler o rótulo da dita cuja que a classificava como: “água mineral fluoretada, litinada, radioativa e hipertermal na fonte”. Cadê os três adjetivos clássicos? Comecei a pensar nos adjetivos que acompanham essa água. Aliás, o que é água mineral? Segundo o Google, pai de toda a sabedoria, são as águas que conseguiram atingir profundidades maiores e que, por isto, se enriqueceram em sais, adquirindo novas características físico-químicas, como, por exemplo, pH mais alcalino e temperatura maior. Dizem também que são mais benéficas à saúde. Não vou discutir isso, mas e os outros quatro adjetivos? Sem consultar o pai da sabedoria, olho para eles e penso sobre cada um: o fluoretada deve vir de flúor, aquele elemento que protege os dentes, deve ser bom. O flúor sempre foi um dos mocinhos na tabela periódica. Litinada, provavelmente vem de lítio, outro elemento químico. Mas na hora penso no lítio, aquele remedinho indicado para maníaco-depressivos. O hipertermal, não tenho nem ideia, hiper pode ser lido como muito, grande, já o termal deve vir de termas, talvez seja algo a ver com a temperatura. Mas o que me chamou a atenção foi mesmo o adjetivo radioativa. Toda aquela coisa de Hiroshima, de Nagazaki, Chernobil, bomba atômica, guerra fria, acidentes nucleares, “O dia seguinte”: aquele impactante filme da década de 80 sobre guerra nuclear, o apocalipse. Eu não precisava saber que a água que bebo é radioativa. Deve ser algo controlado, até benéfico, mas as imagens que essa palavra me traz não tem nada de controladas e benéficas. Outra coisa que eu não entendi foi a instrução de não expor o produto à luz do sol. Acontece o quê? Isso o rótulo não explica, só ordena. Novamente fico imaginando as possibilidades: há uma combustão natural? O mocinho flúor vira um monstro quando atingido por raios solares? Olhando mais de perto no rótulo, descubro que a água também contém bicabornato, sódio, cálcio, potássio, cloreto, borato, magnésio, sulfato, fluoreto, nitrato, e estrôncio. Parece um exército de elementos químicos, vai que eles perdem as propriedades positivas à luz do sol. Bom, mas isso é bobagem claro. Vamos a ele, nosso pai que tudo sabe, tudo responde, para saber por que a água mineral não pode ser exposta ao sol: “O produto não pode estar exposto a luz solar direta ou fonte luminosa. A exposição do produto nessas condições pode acarretar a proliferação de algas alterando a cor da água que se torna amarelada ou esverdeada”. Algas? Mas algas não são aqueles bichos que ficam lá no fundo do mar? Melhor mesmo era ter ficado na ignorância...

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