...

quarta-feira, 2 de março de 2011

Cindy Sherman



Não é o poeta quem diz a palavra que, sendo mistério, é distante. Renunciar ao antigo modo como usava a palavra entristece o poeta? Pois esta renúncia é o poder mais elevado da palavra. E o que dizia o antigo modo de usar a palavra? Que algo pudesse existir sem ela. E o que diz o modo novo? Diz que nenhuma coisa é onde falta, falha, quebra a palavra. E coisa, o que é? Aquilo que, de alguma maneira, é. Nessa acepção, até deus é uma coisa. É difícil encontrar a palavra para a essência da linguagem. Somente quando se encontra a palavra para a coisa, a coisa é coisa. Não será essa coisa, o que e como ela é, algo em nome de seu nome? O poeta não diz, e, reverente, escuta a palavra dizer-se. A palavra vem da terceira margem do rio, ali onde a razão e lógica devem ser servas, e servas reverentes. O poeta só não renuncia ao mistério da palavra, esta jóia delicada e preciosa, que não pertence a este mundo nem ao outro.

Fernando José Karl



Um comentário:

Anônimo disse...

Sim Fernando, é isso.