POR MARCO VASQUES
Uma escritora de Bruzundangas escreveu dizendo que está com as minorias sob quaisquer circunstâncias. Ela tem razão. Mais razão ainda porque as minorias são, quase sempre, as maiorias. Curioso o cálculo, mas é assim mesmo. Em Bruzundangas se reintegram posses e poses, mas nunca se pensa em se reintegrar o direito ao humano. Sob o pretexto de cumprir uma lei, todas as outras leis são jogadas no lixo. E não só as leis. É comum na república bruzundanguense jogar as pessoas no lixo, jogar a vida e os sonhos das pessoas no mais fétido dos cantos.
O filósofo francês Michel Foucault já nos disse, muito apropriadamente, para quem todo este sistema coercivo trabalha. E não precisamos ler “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, de Karl Marx, para entender que todo homem necessita comer, vestir, ter lazer, trabalho e um local para morar, para amar, para criar seus filhos. É impressionante como evidências tão simples se transformaram no maior problema entre os homens. E a polícia, que poderia muito bem defender os seus, vive controlando encontros musicais, teatros e expulsando gente severina de sua própria terra.
Existe uma solução simples para Bruzundangas: desapropriar todo o nosso litoral invadido por magnatas, todas as gigantescas construções envoltas em nossos manguezais e todos os grandes empreendimentos construídos em locais inadequados. Mandar essa gente que mija prata e que caga ouro devolver suas mansões, seus castelos e respeitar as leis, o meio ambiente e a vida dos outros. Mas claro que seria pedir demais para os republicanos de Bruzundangas.
Difícil é alguém pensar da seguinte maneira: bem, temos um monte de gente severina, trabalhadeira, pobre, sem rumo... por que nossa república tem sistema de saúde ridículo, educação pífia e uma das maiores concentrações de renda do mundo? Então, um desses luminares bruzundanguenses poderia sugerir que nesses locais, para onde toda essa gente severina foi miseravelmente empurrada, seja feita uma compra do terreno pelo estado de Bruzundangas que legalizaria tudo e presentearia, uma vez na vida, essa gente sofrida, que vive nômade na vida.
Mas não, essa gente pobre, que nossa república criou, tem que ser escorraçada, apedrejada, chutada e escondida da cidade, escondida do mundo, porque em breve receberemos, por um ou dois meses, alguns ilustres homens de outros continentes. Eles, por um mês, correrão atrás de uma bola e depois nos deixarão, com uma nova configuração: a gente severina mais longe de sua gente severina. E, infelizmente, cada vez mais severina.
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