não seja tão literário
mas se homero dante a bíblia
são pura literatura
por que não escrever abismos com violinos?
(sei que minha geração
ainda uma vez ironizou
os programas do poder
os discursos literários
romantismos concretismos
panfletarismos cabotinismos
evoé nuvem cigana
saudades cacaso & ana
mais tantos que sonharam
o fim das ditaduras
naqueles roarin’70)
e o consolo paralelo
das construções diamantinas
o la chair est triste, hélas!
et j’ai lu touts les livres
(não resolve
mas me ilumino de imenso)
última oportunidade a um cinquentão
sem poética consistente
mas com tanta vodka pela frente
(se pudéssemos estrangular deus
a branca medicina
tudo tudo
ironia na neblina)
a prosa invadiu de vez a poesia
com música ou sem melodia
o verso não mais recamará ossos
(parcas as parcas
aspérrimos verbos e este ônibus
seco)
corais de luzes dolorosas
navios do princípio do tempo
encalhados nos esqueletos sem fim
(ninguém virá na estrada para
e se vier não há mais jeito
refulgem ruíssimas retinas
o anjo se drogou todo de estrelas)
no fundo fosso a fera engole
a ferida tremenda
e no entanto a vida
entanto o sonho
(virá cantando aleluia pelo atalho
todos desconhecem o mapa mágico
rastro sagrado pedra angular
tudo se esqueceu)
última oportunidade hare
hare
AFONSO HENRIQUES DE GUIMARÃES NETO
Um comentário:
bacanérrimo
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