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quinta-feira, 28 de junho de 2012

NAVALHA VIDA

E olho para trás. Permaneço em um movimento sem fim.As águas me pegaram pelos pés. O coração me pegou quando ouvi o som do mar. Eu só queria pegar na sua mão. Mas o que a vida traça parece nos aviesar, e estamos em um combate direto: eu, você, o destino. O que eu quero não me quer. O que eu posso não me cabe no momento. Estranha trama onde o desejo não corresponde ao real. Estranha época, em que tudo é possível e me falta fôlego. Entrelinha fina, navalha vida: um cruzeiro sem mapa de chegada, a certeza da cadeira de balanço vazia, uma ruga a mais, um dia perdido no sonho, solidão. Pareço ir atrás de um coelho doce, que foge mais me quer,mas não me quer, mas me quer. E o que resvala são tábuas.Chapéus pendurados na imagem de todas as casas que passei. A coleção de sorrisos que abrigo na memória das teias,panos empoeirados, a certeza em palpitações, postais,frio e cinzas.As sobras de roupas e objetos que contém uma história e todas me contam ao pé do ouvido quando pouso os dedos no nanquin.Queria ter mãos a mais,para poder me escrever,remontar. Eu tenho medo do que vou traçar nesse imenso vazio. E tenho medo de temer quando a coragem se aliar ao fogo. Entro nas labaredas do tempo, do meu tempo:ruína, boboleta, bundas, caracol, abismos, avenidas, computador. E não posso pegar na sua mão.E não posso escrever essa prosa sozinha.São quilômetros de distância. São prédios que eu tenho que erguer sobre meus pés. E tudo me pára, pára em mim.Não me pertenço. Não pareço pertencer a lugar algum. Respiro fundo em laço, me lanço. RYANA GABECH

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