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segunda-feira, 2 de julho de 2012

O BAR DO FIFA

POR MARCO VASQUES Os bares são os lugares mais literários do mundo. Neles temos de tudo. Solteiros, casados, separados, viúvos, ricos, amargurados, gastadores, traídos, pobres, jogadores compulsivos e, claro, toda sorte de bêbados. Chatos, alegres, tristes, brigões, machões, transformistas, artistas, poetas, intelectuais, sabichões, teimosos, dorminhocos, efeminados e todo gênero de maluco que o alto consumo de etílicos pode produzir. Existem inúmeras teorias sobre a ingestão do álcool. Há os que defendem que a verdadeira personalidade aparece após alguns tragos. De todos os tipos de bêbados, os mais chatos são os intelectuais, porque após alguns tragos ninguém mais vê o mundo a não ser via seu umbigo universal. E pior, os intelectuais têm um dom supremo de acumular vários tipos em um só, segundo eles porque são múltiplos. Então eles são intelectuais, chatos, valentões, sabichões tudo junto na mesma hora. Já dá até pra imaginar uma figura dessas. O negócio é identificar logo a figura com tal pluralidade e passar longe da mesa do indivíduo. O resto se atura com alguma tranquilidade e paciência. Existe até uma tese da confiabilidade via bebida. O negócio é bem empírico. Convida-se uma pessoa para beber e se toma o suficiente para que ambos saiam da órbita da razão. Se ao final da noite e da bebedeira a amizade resistir, pode acreditar, eis uma pessoa em que se pode confiar. Então, por princípio, já se sabe a qual pensamento a tese no leva: é impossível acreditar e confiar em pessoas que não bebam, pois nunca saberemos qual a sua suposta verdadeira personalidade. O Bar do Fifa, por sorte, não possuía nenhum intelectual desse gênero, embora por ali, todos os dias figurassem pensadores das mais diversas áreas. No Bar do Fifa encontrávamos a gente simples do Córrego Grande bebendo ao lado de executivos de grandes empresas, todos vivendo numa harmônica embriaguez. No domingo, muito comum todos se reunirem para comprar bilhetes de rifas, cujo prêmio era um pedaço generoso de churrasco, que comíamos ali mesmo, com se fôssemos uma família. A cerveja e a cachaça eram compartilhadas. Nas quartas-feiras tínhamos uma galinhada com polenta, feijoada ou umas sopas de legumes. Tudo anunciado num pequeno quadro. Ao entrar no boteco as duas primeiras coisas que se fazia era olhar a rapaziada da canastra e o quatro para conferir a programação da semana. Tudo isso somado ao jeito bonachão do Fifa, que nos atendia com uma piada, um sorriso e a cerveja não mão. Fechado há três meses aquele ambiente testemunhou muitos porres e inúmeras histórias vividas e inventadas.

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