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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Caroline Hyman, 2006



Se a alma é palavra, é pela palavra que ela jamais se encontrará, porque é lá, na palavra, que a alma habita. A palavra, por pura proteção, jamais sairá de onde está. A palavra não é uma coisa morta e nem é palavra o que lemos no dicionário; muito pelo contrário, a palavra é vis activa: algo pra lá de vivo. A palavra céu, se pronunciada por Algo ou Deus, é um céu; a palavra água é água.

A palavra a que me refiro não é a palavra em estado de dicionário; a palavra a que me refiro, com reverência, é aquela palavra anterior ao mundo; é a palavra que o primeiro Homem (Deus ou Algo) pronunciou para criar o mundo.

Se pronunciarmos céu por nós mesmos, o céu morre; contudo, se pronunciarmos céu por amor ao Algo, ou porque escutamos a palavra de Algo, é bem verdade que um céu acaba de nascer em nós.

A palavra purifica, clareia, inaugura um mundo novo nisto que convencionaram chamar de "alma".

A palavra é a casa da alma.

A palavra da alma só é desprezada porque ela tem uma pequena aparência.

Quem sabe, depois de mortos, apenas nos reste criar o paraíso com as palavras: aqui a torrente de uma árvore; ali a barca de um vento; lá um adágio perfuma as veias.

O poeta é aquele que pressente isto de maneira profunda: e não quer mais o mundo, mas aquele outro mundo onde pode escutar a palavra e, surpresa, a palavra luz é uma luz mesmo.


Fernando José Karl,

um animal impossível do espírito


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