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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Entrevista com Dennis Radünz


DENNIS RADÜNZ / Entrevista por Jacqueline Iensen (Diário Catarinense, 01/12/09)


Como nasceu o livro “Cidades marinhas: solidões moradas”?

Dennis Radünz – Esse livro de “jornalirismo” (o jornalismo lírico) nasceu a cada segunda-feira, durante quatro anos (2004 a 2008). Selecionei 31 de cerca de 210 textos publicados no DC, tomei-lhes o pulso, medi a temperatura, voltei a lê-los para descobrir se ainda respiravam e, claro, considerei a opinião dos leitores e dos amigos na escolha das crônicas e dos contos. Deixei de fora artigos impactantes (o do massacre de Beslan ou a defesa do desarmamento), mas mantive a elegia sobre a vinda à Ilha das cinzas do “emparedado” Cruz e Sousa e a minha crônica predileta, sobre a hipótese dos oceanos-portáteis no interior de Santa Catarina.

Como podemos descrevê-lo para o leitor. Do que ele trata?

Dennis – “Cidades marinhas...” fala da estrela caída no chão da cozinha, da arte de ser feliz, dos apagões e engarrafamentos, fala do Mercado Público, da Beira-Mar e do Sambaqui, e da minha própria infância, do futebol dos meninos do morro do Maciço, de outro menino que descobre o nome das coisas repentinamente, fala dos andarilhos e de amantes sem dinheiro, de melancolias e enormes felicidades. É o livro das solidões moradas. E o “homem de açúcar”, na série de fotos da artista Aline Dias, atravessa as páginas – ele tentou adoçar o mar e acabou se dissolvendo.


O que imaginas alcançar com o livro. Qual é o seu objetivo?

Dennis – Imaginei uma escrita francamente literária, com áreas de inocência e de ironia, para documentar, de fragmento em fragmento, o caos e o cosmo da Ilha de Santa Catarina. Tentei recriar Drummond em “A máquina do mundo”. Procurei me aproximar da sintaxe de Guimarães Rosa. Reescrevi uma notícia da página de polícia e escrevi a crônica-poema “Desterra” sobre o elevado viário que se levanta entre o aterro sanitário e o cemitério São Francisco. É muito metafísico isso! Mas se tive algum objetivo com o livro, foi o de causar prazeres, uma certa incerteza, dois ou mais deslumbramentos.


Qual o maior desafio de um cronista?

Dennis – O desafio de capturar o “coração do instante”, como escreveu o poeta Rimbaud, e, depois, salvar a crônica precária da fome do deus Cronos, o deus do tempo que devorara os próprios filhos e que ainda nos devora... O outro desafio é apossar-se do leitor, porque, como escrevi, “ler é uma possessão consentida”.
Foto de Francine Canto.

2 comentários:

Marco Vasques disse...

Aí está amigo, post feito. Abração

Clotilde Zingali disse...

perguntas suscintas e pertinentes, respostas delicadas e poéticas. gostoso ler uma entrevista assim. beijo para os dois! Clô