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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Uma crônica de Rubens da Cunha

UM SÁBADO QUALQUER...

Quando se fala em terrorismo pensa-se primeiro em toda aquela violência lá no outro lado do mundo, em que alguém põe uma bomba num lugar público ou transforma-se em bomba e explode. E se explode, seja por motivo político, seja por motivo religioso, não raro uma mistura dos dois motivos. Mas o terrorismo também vem em dosagens menores e pode não envolver grandes violências, pode não ir parar durante semanas na mídia, podem não aparecer especialistas de última hora debatendo o ocorrido. O terrorismo vem nas pequenas chantagens, nas manipulações, nas ameaças que fazemos, e que nos fazem, por aí a todo instante, tanto no trabalho, nas relações familiares, nas amizades. Dias desses, vi uma cena que expõe bem essa espécie de micro terror, nesse caso, disfarçado de educação. Eu fui pegar um ônibus e perto do ponto tinha ocorrido um atropelamento. Eu vi o homem deitado no chão, os paramédicos, os curiosos, o congestionamento, ainda me passaram na cabeça todos os clichês sobre a fragilidade da vida e como a morte ronda a todos. Logo o ônibus veio, lotado só pra variar, eu paro na frente de uma mulher e seu filho e ouço um trecho da conversa. A mulher dizia mais ou menos o seguinte para seu filho: “Viu o que dá não ir na igreja? Se afastar de Deus? Deus vem e zupt, leva embora para acertar contas.” Devo confessar que a mulher me aterrorizou. O garoto deveria ter uns oito ou nove anos. Usava óculos e tinha um silêncio concordante também bastante aterrorizador, ou seria aterrorizado? Não sei, talvez eu tenha ouvido a conversa fora de contexto ou tenha criado o contexto a partir do atropelamento, mas o fato é que Deus, para essa mãe, é um ser bastante vingativo, um caçador contumaz daqueles que se afastam da fé, que lhes dá a morte repentina por causa tanto do afastamento, quanto pela desobediência. Além de repetir para o filho alguns séculos de terror religioso, já o colocava na linha, um método, digamos, prático de educar uma criança, agora que as palmadas estão proibidas, toca para o terrorismo psicológico e religioso que está tudo bem. Não sei bem como esse breve, porém temerário, terrorismo da mãe vai repercutir no menino. Talvez ele se torne um religioso fanático, ou um ateu fanático, as duas coisas bastante prejudiciais, pois impedidoras de uma visão mais ampla do mundo real e do fora do mundo. Talvez ele perceba a profunda humanidade da mãe e como ela estava assustada com a ideia de morrer sem ter certeza do depois e a perdoe por num sábado qualquer lhe impor a ideia de um Deus terrível e assassino. Talvez ele repita esse discurso daqui a vinte anos para um filho, talvez ele perceba que o Deus assassino teve um filho mais afeito ao diálogo do que à punição. Descemos no terminal. Eles foram para um lado e eu para outro. Porém, o fato é que o terrorismo da mãe ficou em mim e, claro, está ecoando nas minhas sombras e sobras cristãs: e se a mulher estiver certa?

2 comentários:

Maeles Geisler disse...

certo ou errado
não gosto de terrorismo
e apesar de tudo, amo Deus
amo???

bjs
demorei a aparecer por aqui..

Maeles

Maeles Geisler disse...

certo ou errado não gosto de terrorismo, e apesar de tudo, amo Deus.

Amo???

Bjs
Maeles