Após duas semanas fora do ar a seção POEMA SINGULAR retorna. Desta vez o poema selecionado é HOMUS INFIMUS, do poeta Augusto dos Anjos. A escolha é do elegíaco Marco Vasques. A proposta da seção POEMA SINGULAR foi idealizada pelo poeta Antonio Carlos Floriano. Na próxima semana o poeta Rubens da Cunha escolhe o poema de sua predileção. Boa leitura!
HOMUS INFIMUS
Homem, carne sem luz, criatura cega,
HOMUS INFIMUS
Homem, carne sem luz, criatura cega,
Realidade geográfica infeliz,
O Universo calado te renega
E a tua própria boca te maldiz!
O nôumeno e o fenômeno, o alfa e o ômega
Amarguram-te. Hebdômadas hostis
Passam... Teu coração se desagrega,
Sangram-te os olhos, e, entretanto, ris!
Fruto injustificável dentre os frutos,
Montão de estercorária argila preta,
Excrescência de terra singular.
Deixa a tua alegria aos seres brutos,
Porque, na superfície do planeta,
Tu só tens um direito: — o de chorar!
(AUGUSTO DOS ANJOS)
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