A PALAVRA
A palavra é uma estátua submersa, um leopardo que estremece em escuros bosques, uma anêmona sobre uma cabeleira. Por vezes é uma estrela que projecta a sua sombra sobre um torso. Ei-la sem destino no clamor da noite, cega e nua, mas vibrante de desejo como uma magnólia molhada. Rápida é a boca que apenas aflora os raios de uma outra luz. Toco-lhe os subtis tornozelos, os cabelos ardentes e vejo uma água límpida numa concha marinha. É sempre um corpo amante e fugidio que canta num mar musical o sangue das vogais.
António Ramos Rosa
A palavra é uma estátua submersa, um leopardo que estremece em escuros bosques, uma anêmona sobre uma cabeleira. Por vezes é uma estrela que projecta a sua sombra sobre um torso. Ei-la sem destino no clamor da noite, cega e nua, mas vibrante de desejo como uma magnólia molhada. Rápida é a boca que apenas aflora os raios de uma outra luz. Toco-lhe os subtis tornozelos, os cabelos ardentes e vejo uma água límpida numa concha marinha. É sempre um corpo amante e fugidio que canta num mar musical o sangue das vogais.
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