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segunda-feira, 27 de agosto de 2012


OBRIGAÇÃO E MÉRITO
POR MARCO VASQUES
Publicado no jornal Notícias do Dia [27/08/2012]
Não tem jeito. Em toda eleição acontece a mesma coisa. São as mesmas promessas, os mesmos discursos, as mesmas brigas e toda sorte de discussão em torno do que pode ser feito para que a cidade melhore. Mudam as alianças, as lideranças, os partidos, os candidatos. No entanto, o cenário é o mesmo, ou seja, todos disputando a tapas e bofetadas o comando de um barco, quase sempre, marcado pela ausência do poder público. 
É neste período, que num passe de mágica, as cidades são invadidas por obras. Independente do partido, parece que todos absorveram a máxima de que temos a memória fraca. Então, para que fazer obras no primeiro ano de gestão? Deixa-se tudo para o mais próximo das eleições, para que todos tenham o frescor da poeira na lembrança. Até aí nenhuma novidade. Num país em que se acaba de institucionalizar o caixa dois, todo o resto é piada.
Com as propagandas e a intensificação das campanhas, para além das frases bregas e preconceituosas estampadas em sorrisos oxigenados, o que salta aos olhos é o desconhecimento total, de alguns candidatos, do real motivo da existência de um alcaide. Fica evidente a constante inversão de valores sobre o que é mérito e o que é obrigação. Porque nós estamos tão acostumados com a ineficiência, inoperância e toda sorte de “in”, que acabamos, involuntariamente, entrando na onda e acabamos aplaudindo o gato por seu miado.
Ora, melhorar a vida dos cidadãos, as escolas públicas, o sistema de saúde, o transporte, a educação, o acesso à cultura, as ruas, os bairros, enfim, tornar a cidade um espaço mais habitável, menos violento e diminuir as desigualdades sociais são obrigações primeiras de qualquer prefeito. No entanto, não são poucos os que se vangloriam de ter construído escolas, creches e hospitais. Outros ainda estufam o peito e empolam a voz para dizer que farão o saneamento básico, iluminarão a cidade, construirão praças, escolas e aumentarão os números de leitos em hospitais e o salário dos professores.
O que não nos falta é candidato prometendo fazer tudo aquilo que é sua obrigação, isto é,  a premissa de sua existência, pelo constante hábito de nada se fazer, passa de obrigação à mérito. Se observarmos todos os discursos, com raras exceções, veremos que eles incorporaram suas obrigações como fator de mérito. Essa inversão de valores absurda acontece de dois em dois anos no Brasil. O disco furou na pior das faixas. Estima-se que o gasto das campanhas, em todos os quase seis mil municípios brasileiros seria suficiente para o cumprimento de cinquenta anos de promessa-obrigação.

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