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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

CARTA A UMA AMIGA
A palavra é uma jóia delicada e rica: é a palavra, com seu vigor velado, que tece, de maneira imperceptível e até indizível, tudo o que vemos fora de nós: é a palavra que nos dá a possibilidade de reconstruir o mundo vasto mundo em nós: mas quando é que a palavra se impregna em nossa alma?: é quando renunciamos ao antigo modo como a usávamos: essa renúncia, no princípio, nos entristece, mas logo nos alegramos porque a renúncia nos consentiu o mistério da palavra: porque a renúncia consentiu o mistério da palavra, o escritor guarda a jóia da palavra na graça do pensamento: o que, no fundo, é o mais precioso enquanto estamos vivos?: deixar-nos envolver pela palavra, permitir que ela se expresse, sem amarras.
Renunciar ao antigo modo de usar a palavra é apenas consentir que a canoa singre: a palavra não desistiu de ti: eu te digo que a tua aventura com a palavra está apenas começando: a palavra, em sua origem mais primeva, guarda na raiz um fogo e deseja entrar em núpcias com o teu desejo.
As palavras não querem ser veneradas como deusas, mas elas querem desvelar o abismo de nossas confissões mais secretas: as palavras se confundem a nosso sopro e agora leia este poema abaixo, todos os dias, como se ele fosse uma oração: o poema é de António Ramos Rosa: um grande bardo português
Um beijo, com amor,
do Fernando José Karl.

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