CARTA A UMA AMIGA
A palavra é uma
jóia delicada e rica: é a palavra, com seu vigor velado, que tece, de maneira
imperceptível e até indizível, tudo o que vemos fora de nós: é a palavra que
nos dá a possibilidade de reconstruir o mundo vasto mundo em nós: mas quando é
que a palavra se impregna em nossa alma?: é quando renunciamos ao antigo modo
como a usávamos: essa renúncia, no princípio, nos entristece, mas logo nos
alegramos porque a renúncia nos consentiu o mistério da palavra: porque a
renúncia consentiu o mistério da palavra, o escritor guarda a jóia da palavra
na graça do pensamento: o que, no fundo, é o mais precioso enquanto estamos
vivos?: deixar-nos envolver pela palavra, permitir que ela se expresse, sem
amarras.
Renunciar ao
antigo modo de usar a palavra é apenas consentir que a canoa singre: a palavra
não desistiu de ti: eu te digo que a tua aventura com a palavra está apenas
começando: a palavra, em sua origem mais primeva, guarda na raiz um fogo e
deseja entrar em núpcias com o teu desejo.
As palavras
não querem ser veneradas como deusas, mas elas querem desvelar o abismo de
nossas confissões mais secretas: as palavras se confundem a nosso sopro e agora
leia este poema abaixo, todos os dias, como se ele fosse uma oração: o poema é
de António Ramos Rosa: um grande bardo português
Um beijo, com amor,
do Fernando
José Karl.
Nenhum comentário:
Postar um comentário