O BAR DO DUDA
POR MARCO VASQUES
Publicado no jornal Notícias do Dia [06/08/2012]
Depois que o Fifa fechou o seu estabelecimento etílico, não deu outra! A grande maioria de seus clientes migrou para o bar do Duda. Como diz Dona Lindomar, bêbado é igual a passarinho. Seca uma fonte, isto é, cerra-se um boteco, logo se espalha a notícia de que o povo, em bando, está matando a sede em outra freguesia. O Córrego Grande é pródigo em bons botecos. Por isso, nem todos foram parar no bar do Duda. Uns foram para o Bar do + Arroz e outros para o bar do Minga. Os mais preguiçosos estacionaram os beiços no bar do Bentinho. Em qualquer um deles a diversão e a alegria estão garantidas.
Mas no bar do Duda existe uma turma muito especial. Tem Helinho, sangue bom, brigador e com um senso de justiça de meter inveja em qualquer sistema ético. O Edo, irmão do Helinho, que é uma figura lendária no bairro. Não conseguimos mais saber quantos filhos o homem fez. Casou e descasou umas dezesseis vezes. Ninguém mais sabe, com o Edo, o que é ficção e o que é real. O homem tem uns mil rosários de histórias. Coloca qualquer escritorzinho no chinelo. Faz uns cinco anos que ele ganhou trinta mil reais num sorteio e gastou tudo em dois meses de farra. Nessa época, chegou a mudar de nome e era conhecido nas bocas da cidade como professor.
O seu Luiz é outra raridade. Pescador inveterado, não se conforma com matança generalizada dos peixes. Quando chega de uma pescaria, começa a contar as façanhas de trinta, quarenta anos atrás. No último domingo contou uma que só de imaginar se fica cansado. Era tanto peixe, que chegou a dar maresia no cérebro. O Beto, mecânico da rapaziada, melhor dizendo, dos carros da galera, fica na ponta do balcão, quieto, observando a mentirada correr solta. Secão - o leitor pode imaginar o motivo do apelido - é o defensor do Sertão do Córrego Grande. Para ele, não há morro melhor para se viver.
O Fifa, agora cliente no bar do Duda, recebe os amigos com o mesmo sorriso. O seu Valter é um caso para ser estudado. Haja ciência para explicar a força do homem. Ele tem setenta e quatro anos, bebe mais que cachoeira em dia de chuva e cultiva o hábito de comer pimenta e gengibre como petisco. Ninguém acredita como o homem pode beber tanto. O Elemar é comedido na bebida e nas mentiras. Bebe pouco, fala pouco e observa muito.
Lá está o Rico, o desenhista do bairro. A Renata, filha do Duda, que nos atende com o sorriso doce. E claro, o Duda. Cabelo por pentear. Unhas enormes. Camisa aberta. Corrente no peito. Anel de cafetão nos dedos. Vive contando piadinhas politicamente incorretas entre os fregueses. O bar do Duda, definitivamente, não cabe numa crônica.
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