O discurso do Lá
I
báçira não é mais
não é menos, mas é
serra da paçira
terra de Oz-
man Lins
II
um garoto na rua diz:
“o som é muito alto pro meu cavalo”
III
flutua o arco sobre a seara de faces
há muito não chove.
IV
irei, não
fui, estive
agora não
poucos dias
antes do vento
o baile da palha
V
um espantalho na neve.
Moscou, 1927
“ficou lá durante muito tempo, acenando”
seu chapéu
uma gramática russa
sob ele
ruas da infância
VI
como ver-se
e masturbar-se
não. não
na estaca, fixo.
goza com a pele
ru
gosa
dedos finos
dos corvos
VII
a palha atende ao frio que ronda katharina detzel
ganha corpo e avoluma-se em suas mãos
não há sujeito tampouco sangue
mas há o princípio do prazer
e isso muda tudo
e a palha pode ser sim algo
mais que palavra, a própria morte
ainda curva em seu esconder-se dentro da vida
assim a palha alegra o homem
que a disfarça sob a mão feminina que o segura
VIII
lá não se diz mais espantalho
lá o discurso é de mau agouro
lá na curva, malha de aguapé
lá a malha da rede enche a boca da barra
lá o homem de palha enche o bolso de pilha
lá o homem sai radioativo e ruidoso
lá há só eco seco sobre saco de supilho.
Cristiano Moreira
2 comentários:
Cris, vou escrever um espantalho... e postar
valeu marco, fique a vontade e aumentemos nossa galeria.
abraço.
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