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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Noeli - Crônica - Rubens da Cunha

Crônica publicada no A Notícia, dia 25/11/2009


NOELI


Noeli fez aniversário. Está feliz, me disse. Não com a idade, mas com o todo entorno, está levando a vida e deixando a vida levar. Nem sei se Noeli gosta de samba ou do Zeca Pagodinho, sei que ela gosta de Nana Caimmy e Bruno & Marrone. Noeli é assim: amor em suas demasiadas formas, da elegância lenta de Nana aos berros dos dois sertanejos.
Noeli também gosta de dançar. Igual a todas as mulheres, pena que nem todos os homens gostem de dançar. Há um descompasso aí: a dança nelas é natural, neles parece forçada. Mulheres andando já dançam, com Noeli não é diferente. Talvez um dia encontre um parceiro que lhe leve a bailes intermináveis. Noeli, assim como todas as mulheres, merecem bailes intermináveis.
Noeli teve de aprender certas coisas mais tarde: cozinhar, lavar louça, cuidar da casa. São os percalços da vida, a gente ganha, a gente perde. Igual na canastra, igual quando se dá o vivo e quando se dá o morto.
Noeli sempre ri, quer dizer, nem sempre: já a vi chorando, cinematograficamente, debaixo de uma chuva torrencial, os sapatos nas mãos, a tristeza no rosto e toda a água sobre o corpo. Água e lágrimas, ela me disse. Lágrimas também pelos amores idos, largados, mas daí tudo dentro do quarto, toda cena básica do desespero: a taça jogada contra a parede, a descida até o chão encostada na porta, o choro e o chocolate e a música mais dolorida. Noeli é assim, igual a todos os que amam e que por um destino ou outro desmancham-se porque o amor desmanchou-se. Claro, esses desmanchamentos são do passado, portanto pertencem ao riso, apesar de que os mais recentes ainda doem um pouco. Ela não fala, mas deixa transparecer.
Noeli é transparente. Mas qual mulher não é? Nisso ela não desvirtua a espécie, nem nesse novo comportamento mais exigente, mais seletivo. Quer ser feliz, mas não a qualquer custo, quer ser feliz por ela mesma, não porque está com alguém. Talvez tenha sido diferente, talvez Noeli tenha vivido mais para o outro do que com o outro. Talvez tenha trocado pés pelas mãos, cabeça pelo coração, mas quem não o fez? Quem fica entregue à certeza o tempo todo? Mas muita entrega cansa.
Por isso Noeli está na encruzilhada de tantas outras: quer alguém, mas quer também espaço, liberdade, direcionar-se sozinha no mundo. O amor, não mais caminho único, mas caminho escolhido entre tantos outros possíveis. Talvez Noeli, e todos os que estão nesse espaço de vida, consigam conciliar suas vontades.
Enquanto isso, Noeli vai vivendo, ora sendo uma música de melodia intrincada e acordes dissonantes de Guinga, ora sendo aquela canção mais simples e grudenta de Victor & Léo, porque Noeli é assim, abarcadora de todas as emoções. E ri e chora e fala pelos cotovelos e bebe com os amigos e come suas caixas de chocolate sozinha. Igual a todas as mulheres, emagrece e engorda e trabalha demais e se preocupa demais: mãe, filha, genro, ex-genro, cachorro, chefe, ex-namorado, ex-marido e toda a lista interminável de preocupações.
No meio disso tudo o riso sincero, a vida seguindo, e o futuro, que a Deus pertence, também pertence à Noeli, porque ela merece.

Rubens da Cunha

6 comentários:

Marco Vasques disse...

Eu conheço uma multidão de Noeli (s). Grande Rubens.

Marco Vasques disse...

Eu conheço uma multidão de Noeli (s). Grande Rubens.

nO disse...

Eu sou uma Noeli rsrsrsrs

nO disse...

Eu sou Noeli rsrsrsrs

nO disse...

Eu sou Noeli rsrsrsrs

nO disse...

Eu sou Noeli rsrsrsrs