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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Uma crônica de Rubens da Cunha

Crônica publicada no jornal A Notícia no dia 23/12/2009

BALANÇO NATALINO


No começo de 2010 fará seis anos que escrevo nesse espaço, ou seja, com esse agora, serão seis natais. Seis anos em que minha vida mudou substancialmente: eu adquiri uma licenciatura em língua portuguesa, dei aulas durante um ano na rede pública, iniciei um mestrado em literatura na UFSC, me afastei profissionalmente do mundo dos transportes e logística, algo que eu fiz pelo menos uns quinze anos. Conheci lugares e pessoas interessantes. Algumas novas amizades surgiram, livros foram escritos (um de crônicas, inclusive), outras relações solidificaram-se, algumas sólidas se desmancharam no ar, só para lembrar um livro famoso. Continuo poeta. Continuo achando Hilda Hilst a mais devastadora escritora que eu já li até agora. Continuo tímido, apesar de me safar melhor em situações públicas. Resolvo então rever o que andei escrevendo nas vésperas de Natal desde 2004, para ver se minha reflexão nessas semanas de Natal passadas ainda resulta possível. Vejamos: Em 22 de dezembro de 2004 escrevi “O dia que vive em mim”, uma crônica sobre a minha preferência pelo dia ao invés da noite. Com cinco anos nas costas a preferência continua mais viva do que nunca. A noite cada vez mais me põe na cama, naquele sentido bem inocente mesmo, enquanto o dia me alegra, me faz um bicho vivo. A crônica terminava com uma frase meio excessiva na defesa do dia: “Um homem sozinho numa manhã ou tarde, passeia. Sozinho à noite: sofre.” No dia 21 de dezembro de 2005 a crônica era “Teatro: mananciais do sonho” uma ode ao teatro, ah, como essa arte me fascina. Duas coisas chamam atenção até aqui: eu continuo concordando com o que escrevi e a minha recusa até então de abordar o tema do Natal. Seguimos o caminho para ver se isso acontece nos próximos anos. Dia 20 de dezembro de 2006: “A morte semanal de um cinéfilo”, dessa vez narrava as agruras de um cinéfilo diante da programação de cinema de Joinville: americanizada e infantilizada. O tom era de tristeza e uma pseudo-revolta que não sei se eu praticaria hoje, mas o tema continua atualíssimo: a programação de cinema na Cidade dos Príncipes mata de inanição qualquer cinéfilo. A fuga do tema natalino continua...Como dia 26 de dezembro de 2007 foi numa quarta, resolvo olhar essa crônica e eis “O fim do Bombardeio”, um texto que desancava todo o sistema comercial em que o Natal se meteu. Há nele uma certa ingenuidade que talvez tenha diminuído em mim, mas a cada ano o comércio natalino ganha mais força e mais apoio da mídia e do décimo terceiro salário do povo, e o objetivo mais espiritual da festa definha a olhos vistos. Já em 2008 a quarta-feira caiu bem na véspera do Natal, eis que finalmente escrevo a “Primeira Crônica de Natal” em que a ideia foi escrever uma crônica de Natal sem cair nos clichês, resolvi andar então pela cidade descobrindo pequenas delicadezas que pudessem compor um presépio vivo dentro do espírito natalino. Acho que consegui. Agora estou aqui, recordando Natais recentes e vendo que apesar de algumas mudanças, continuo em essência o mesmo. Nem sei se isso é bom ou ruim. A todos que me acompanham nessa vida de cronista a frase mais feita e verdadeira de todas: um feliz Natal.

2 comentários:

Marco Vasques disse...

Rubens, não gosto muito desse euismo na crônica. E não aguento mais escritor escrevendo sobre a falta de assunto para escrever. Também não curto escritor se lendo e se comentando. ahahaha. Mas de todo modo, um feliz natal para ti também!

Rubens da Cunha disse...

hehe, parece que eu desobedeci aquela regrinha da Clarice em que o pior plágio é aquele que se faz de si mesmo :) prometo tentar abandonar alguns vícios crônicos no próximo ano .