Infelizes anos novos
Umas mortes marcaram e marcarão os séculos XX e XXI: o filósofo Maurice Blanchot (2003), o filósofo Jacques Derrida (2007), a dançarina e coreógrafa Pina Bausch (2009), o ator Paulo Autran (2007), o teatrólogo Algusto Boal (2009), os cineastas Ingmar Bergman (2007) e Michelangelo Antonioni (2007), o grande poeta paraense Max Martins (2009), o poeta e pintor português Mario Cesariny (2006), o poeta Antonio Gancho (2005), o antropólogo Claude Lévi-Strauss (2009), ah! A perda do grande Patativa do Assaré (2009), e, é claro, a perda de uma senhorinha que morava aqui no Córrego Grande. Ela morava numa casa branca com um pé de roseira vermelha na janela. Tinha mais de 80 anos. A única coisa que sei é que nunca casou. A morte dela foi tão silenciosa quanto sua vida. Fiquei sabendo de sua partida semanas depois. Nunca falei com ela. Não precisava, nossos olhos eram da mesma geração. E tem um tio meu de nome Joaquim que surpreendeu ao se suicidar aos 82 anos agora em 2009. Se foram, também, nesses últimos 10 anos, o encenador Jerzy Grotowski (1999) e o poeta-arquiteto João Cabral de Melo Neto (1999). Pelas mortes que citei já dá para perceber que o século XXI é um século de diluição. Tudo o que foi pensado em arte na primeira década do século XX está, de algum modo, expresso nas obras e nas vidas dos mortos-vivos citados. As idéias originais contidas nas manifestações dos distantes primeiros anos do século XX foram tão marcantes que influenciaram toda essa gente graúda, cada um a seu modo. Talvez sejam necessários mais 300 anos para que tenhamos um novo Renascimento. A música, a literatura, a psicanálise e as artes plásticas tiveram suas maiores reflexões e indagações justamente naqueles primeiros anos. Mesmo toda a discussão da arte contemporânea não seria possível sem aqueles primeiros pensamentos primordiais. Aqui, em nosso estado alterado de consciência, na Satã Catarina, se fez mais nas artes nos últimos 10 anos que nas quatro primeiras décadas do século XX. Temos o grupo Cena 11 na dança; Fernando Lindote nas artes plásticas junto a uma gurizada que vem aí com tudo. O teatro, de longe, é a arte que mais ganhou expressão: André Carreira, Morgana Raitz (uma grande surpresa), Jefferson Bittencourt (que tem cometido mais acertos que erros), o Pedro Bennaton, a trupe do Teatro Sim! Por Que Não!!?, as meninas da Traço (outra adorável surpresa)... Na literatura temos as poéticas do Dennis Radünz, Fernando Karl, Rubens da Cunha e da Ramone Abreu Amado. A prosa do Péricles Prade. O experimento essencial da Raquel Stolf e uma safra de jovens poetas que marcarão as letras de Satã C. Ah! E sobre o futuro? E sobre o século XXI? Aposto que o século XXI continuará sendo o século da tecnologia, da medicina, da corrupção, da destruição do planeta, da individualidade e de assassinatos grotescos que não causam mais reflexão, apenas notícias que serão substituídas por outras com os mesmos requintes de crueldade, enfim, será conhecido como o século em que a humanidade não esteve no mundo.
Umas mortes marcaram e marcarão os séculos XX e XXI: o filósofo Maurice Blanchot (2003), o filósofo Jacques Derrida (2007), a dançarina e coreógrafa Pina Bausch (2009), o ator Paulo Autran (2007), o teatrólogo Algusto Boal (2009), os cineastas Ingmar Bergman (2007) e Michelangelo Antonioni (2007), o grande poeta paraense Max Martins (2009), o poeta e pintor português Mario Cesariny (2006), o poeta Antonio Gancho (2005), o antropólogo Claude Lévi-Strauss (2009), ah! A perda do grande Patativa do Assaré (2009), e, é claro, a perda de uma senhorinha que morava aqui no Córrego Grande. Ela morava numa casa branca com um pé de roseira vermelha na janela. Tinha mais de 80 anos. A única coisa que sei é que nunca casou. A morte dela foi tão silenciosa quanto sua vida. Fiquei sabendo de sua partida semanas depois. Nunca falei com ela. Não precisava, nossos olhos eram da mesma geração. E tem um tio meu de nome Joaquim que surpreendeu ao se suicidar aos 82 anos agora em 2009. Se foram, também, nesses últimos 10 anos, o encenador Jerzy Grotowski (1999) e o poeta-arquiteto João Cabral de Melo Neto (1999). Pelas mortes que citei já dá para perceber que o século XXI é um século de diluição. Tudo o que foi pensado em arte na primeira década do século XX está, de algum modo, expresso nas obras e nas vidas dos mortos-vivos citados. As idéias originais contidas nas manifestações dos distantes primeiros anos do século XX foram tão marcantes que influenciaram toda essa gente graúda, cada um a seu modo. Talvez sejam necessários mais 300 anos para que tenhamos um novo Renascimento. A música, a literatura, a psicanálise e as artes plásticas tiveram suas maiores reflexões e indagações justamente naqueles primeiros anos. Mesmo toda a discussão da arte contemporânea não seria possível sem aqueles primeiros pensamentos primordiais. Aqui, em nosso estado alterado de consciência, na Satã Catarina, se fez mais nas artes nos últimos 10 anos que nas quatro primeiras décadas do século XX. Temos o grupo Cena 11 na dança; Fernando Lindote nas artes plásticas junto a uma gurizada que vem aí com tudo. O teatro, de longe, é a arte que mais ganhou expressão: André Carreira, Morgana Raitz (uma grande surpresa), Jefferson Bittencourt (que tem cometido mais acertos que erros), o Pedro Bennaton, a trupe do Teatro Sim! Por Que Não!!?, as meninas da Traço (outra adorável surpresa)... Na literatura temos as poéticas do Dennis Radünz, Fernando Karl, Rubens da Cunha e da Ramone Abreu Amado. A prosa do Péricles Prade. O experimento essencial da Raquel Stolf e uma safra de jovens poetas que marcarão as letras de Satã C. Ah! E sobre o futuro? E sobre o século XXI? Aposto que o século XXI continuará sendo o século da tecnologia, da medicina, da corrupção, da destruição do planeta, da individualidade e de assassinatos grotescos que não causam mais reflexão, apenas notícias que serão substituídas por outras com os mesmos requintes de crueldade, enfim, será conhecido como o século em que a humanidade não esteve no mundo.
Quadro de Kasimir Malevich
4 comentários:
veleu a citação Vasques...
abraços e feliz década nova :)
Citei só os bons.. ajahahaha
ai, mas de triste mesmo! rs
adorei a passagem da velhinha da casa branca com a roseira na janela..bela imagem!! besitos
Oi linda, Linda literalmente, valeu.É bom ter uma leitora assídua e atenta como você.Beijo, daqueles.
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