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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Uma crônica de Rubens da Cunha

BICICLETAS OU CARROS

No dia 22 de setembro, ocorrerá o Dia Mundial sem Carro. Trata-se de um movimento para se criar uma conscientização para o uso racional dos automóveis que vem ganhando corpo a cada ano. As cidades estão ficando pequenas para tantos carros, o resultado dessa obviedade que eu acabei de escrever são os engarrafamentos cada vez maiores. Porém, mesmo com o caos se instalando diariamente, as mudanças efetivas, a busca por um equilíbrio maior entre os meios de transportes, as políticas públicas de transportes urbanos andam a passo de tartaruga. Ou seja, pouca coisa realmente transformadora, por parte do poder público, está sendo feita no intuito de mudar a mentalidade das pessoas em relação ao carro. Alguns exemplos vencedores, geralmente europeus, deveriam ser seguidos. Ciclovias em Copenhague são perfeitas, as de Barcelona também, mas isso é lá na Europa, aquela cidade muito velha, como dizia Drummond, que está no mundo do consumo há muito tempo e que agora pode efetuar mudanças para o bem-estar da população sem prejuízo político, muito pelo contrário, há uma valorização grande das políticas neste sentido. Este talvez seja o ponto que nós, aqui do lado debaixo do Equador, temos que enfrentar de forma mais radical, antes mesmo de exigirmos que o poder público construa uma malha de ciclovias pela cidades, e não apenas pequenos trechos que ligam nada a lugar nenhum. Nós somos terceiro-mundistas, nossos carros até duas décadas atrás eram carroças, só para lembrar um não tão saudoso ex-presidente, ou seja, entramos no mundo do consumo pra valer há pouco tempo, e já querem nos retirar o conforto e a vaidade do carro, já querem que a gente desista do que eles, lá no primeiro mundo, usufruíram durante décadas. Ou seja, olhando por esse lado, é bastante injusto, efetiva-se assim o ditado de que alegria de pobre dura pouco. Penso que seja contra essa sensação de perda da população em geral a principal luta que movimentos por meios de transportes mais econômicos e ecológicos, tenham que enfrentar: convencer o indivíduo a largar seu conforto e o desejo de desfilar com o carro para andar de bicicleta ou de ônibus coletivo. Por mais ecologicamente correto que seja, por mais salvadora que seja, essa ideia esbarra na impopularidade. Talvez por isso, governos, terceiro-mundistas que são, exitem tanto em construir ciclovias, corredores de ônibus, passarelas, enfim, algo que privilegie a mobilidade do pedestre e do ciclista, em vez do motorista. Além disso, um viaduto, uma avenida larga, uma rótula gigantesca é sempre mais visível do que uma ciclovia qualquer e rende bem mais votos. A luta por cidades menos engarrafadas passa pela mudança da mentalidade tanto dos dirigentes em geral, quanto da população, que precisa enfrentar a realidade que nós chegamos atrasados no mundo do consumo, sobretudo de automóveis, e que vamos ter que reverter esse quadro, dar um salto sobre o desejo e a vaidade, e pedalar ou andar a pé, logo, logo, a única maneira de se chegar ao destino.

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