Nesta tarde de junho
quase julho
feita de bruma
só levanto
se ela chamar por mim,
voz rouca
seios de marfim.
Amados, amigos,
esqueçam a poeta
e seus dizeres
só levanto
se ela chamar por mim,
dedos róseos
lábios de cetim.
Os filmes são improváveis
os encontros adiáveis
hoje não saio daqui
só levanto
se ela,
olhos de alecrim
chamar por mim.
A casa descansa
porque hoje é sábado
a cidade descansa
porque hojé é sábado
Quem me faria levantar,
senão ela
aldraba de mim?
Em seu ventre
adormeço,
colho amoras
qual Salomão em seu jardim
e só levanto
se ela e seus ais
chamarem por mim.
[Este poema de Neide Archanjo está no livro de poemas EPIFANIAS (record). O livro é um sopro de nuvens em olhos de infância. Uma orquestra de desenhos-relâmpagos perpetuados no auge luminar, laminar. Um sinfônica de três instrumentos: a infância, o amor e a morte. Diáloga com Vinícius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade. Mas só diáloga, pois o livro tem um carnação medular própria. É um crepúsculo de ondas gravitado no núcleo do sagrado humano. Do sagrado e profano estar aí. Um boa dica para um fim de domingo. Quando a casa dorme de segredos e silêncios.]
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