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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Um texto de Antonio Carlos Floriano


BARCELONA

Meu coração não vislumbra luz nessas calhes de sombras. No gótico das pedras e nos adornos de ferro. Meu coração vive em todos os labirintos e no sotaque adverso do catalão. Meu coração sobre os touros de bronze da praça catalã. E meu coração na boca diante da catedral feita como um castelo de areia na praia de Gaudi. Haja coração para tanta beleza. No escuro das catedrais e seus altares de fumaça, o tempo escondido entre rezas e rituais maçônicos, no sangue resignado dos santos. Barcelona. Estendida sobre o mar, deitada na aridez do deserto, musa intocada. Cortesã despida e sem idade presumida. Barcelona que mistura idiomas e olhos de mouros e gente branca de Gales e Edimburgo. Barcelona que eu vi com esses olhos espremidos nos vaus de pedras e nas caves sem causar a suspeita dos mercadores rubros e dos pedintes ciganos. Meu silêncio de sonho, o mesmo que improviso quando escrevo. Percorri ruas estreitas no meio da babel urbana. Na distância dos mundos encontrei olhos árabes iguais aos meus. Olhos de invasores latinos marroquinos africanos. Na Barcelona desconhecida, os mesmos rostos familiares e os risos de meu tio Gabriel, sua pele escura e seus olhos azuis. Barcelona como uma foto sépia, antiga, que se mistura com outros exóticos temperos marinhos. Este é o gosto não esquecido das noites de Barcelona adormecida aos pés de Joan Miró.

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