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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Uma prosa de Ryana Gabech


E só poderei entrar, sozinha.


A moça suou a testa, sentada à beira do rio vestiu-se de calor e dor. Contou as palavras que corriam pelas corredeiras lentas. O lugar rodeado de montanhas, cavalos marinhos sorriam através da transparência das águas. Teve vontade de construir ali uma barraca com pilares esculpidos de barro vermelho. A terra mais bonita é a argila. Fica entre o subsolo e a superfície. Começou a escrever na areia imaginando as letras afundarem até o mais remoto interior do mundo, onde a terra nina o mar: Solidão da beleza. Nos dias de suor, caminho ao longo de muitas mãos. Mãos de vespas, patas de mosca, nadadeiras de peixes, queria falar a língua das baleias e chamá-las à beira-mar, queria ficar transparente entre os bares, ouvir todas as conversas da mesa, gostaria de poder desenhar você nu. Traçar nanquim entre as pintas das suas costas. Caminhar sobre meus cabelos. Fazer música com as conchas esquecidas no fundo do mar. Descobrir as paisagens que habitam todos os sonhos quando você está em Zimbros. Vagar sem rumo por um sentido. Céu de melodias me abraça, vermelho, pratas. Perfumes do alvorecer. Você está tentando me falar. Mas agora não posso, estou entrando no portal das flores, estou no fim da lua. Nua no jardim. E só poderei entrar, sozinha.

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