Uma linha azul no centro de Florianópolis
Uma linha azul perpassa parte do centro histórico de Florianópolis. Uma linha azul ora brilha no concreto, ora se apaga com as pegadas multiplicadas pelo fervor e fúria humanos. Há uma fúria inexplicável neste período do ano. Uma febre de término e de início. Uma febre de mar, de céu. E o azul, abusado, se estende pelo concreto afora. A linha aliança o Forte Santa Bárbara, passa pelo Hotel Jasmar (não seria Jazmar?). Depois escorre pela Praça Fernando Machado, passando pelo extinto Miramar. Estende-se, num azul incômodo, por sobre as mesas, em que jogamos dominó, até chegar ao Mercado Público. Segue margeando as calçadas da Francisco Tolentino e pega (contramão) a Padre Roma até desaguar no Floripa Music Hall e se findar lá pelas bandas da Noite, onde as linhas são da cor do entusiasmo do amante notívago. Caminhar por sobre a linha azul (do seu início ao fim) exige silêncio, certo luto. Sim, luto. O que dirá uma linha azul? Quem traçou uma linha azul no centro histórico de Florianópolis? A linha que perfaz todo este trajeto é uma intervenção urbana do artista contemporâneo Piantan Lube Moreira. É ou se pretende, portanto, uma obra de arte. O artista da cidade de Vitória, Espírito Santo, veio a Florianópolis sob a curadoria do arquiteto e ativista político-cultural César Floriano. O azul instalado sobre cimento demarca o aterro que assoalhou as águas do mar. Sim, aterro. A proposta de uma faixa azul no centro da cidade é justamente para provocar um olhar: o cimento sobre a terra: a terra sobre o mar: o que ganhamos? O que perdemos? O azul acusativo está a nos dizer o quanto invadimos do espaço dos peixes, dos caranguejos, das gaivotas e das pequenas vidas marinhas. Não é de estranhar a escassez cada vez maior da presença deles. Uma avenida aqui, um prédio ali, um centro de convenções acolá, uma boate mais à frente, uma rodoviária: tudo no mais duro concreto suturando a terra que expulsou o mar de sua origem. O dramaturgo e poeta alemão Bertold Brecht disse em um de seus versos: “Do rio que tudo arrasta se/ diz que é violento/ Mas ninguém diz violentas as/ margens que o comprimem”. O autor de Mãe coragem e Os fuzis da senhora Carrar não vive para ver o que se passa em Agudo, Angra, Haiti. Nós ainda saberemos do azul que corre concreto afora e de outras cores sem luz. Estranha-me muito que pouco tenha se falado desta linha azul escancarada no centro de Florianópolis. Pois o movimento de arte contemporânea aqui é forte e temos representantes e espaços que, cada vez mais, ganham projeção Brasil afora. É o caso da galeria Arquipélago, da galeria Arco, dos artistas Fernando Lindote, Júlia Amaral, Carlos Asp... Esta faixa exposta há dois meses, parece invisível, tão invisível quanto o mar que o cimento comeu, que a terra comeu e que um dia há de reaparecer em algum lugar ainda não sabido. A faixa “azul da cor do mar” nos leva a suspeitar o incolor.
Uma linha azul perpassa parte do centro histórico de Florianópolis. Uma linha azul ora brilha no concreto, ora se apaga com as pegadas multiplicadas pelo fervor e fúria humanos. Há uma fúria inexplicável neste período do ano. Uma febre de término e de início. Uma febre de mar, de céu. E o azul, abusado, se estende pelo concreto afora. A linha aliança o Forte Santa Bárbara, passa pelo Hotel Jasmar (não seria Jazmar?). Depois escorre pela Praça Fernando Machado, passando pelo extinto Miramar. Estende-se, num azul incômodo, por sobre as mesas, em que jogamos dominó, até chegar ao Mercado Público. Segue margeando as calçadas da Francisco Tolentino e pega (contramão) a Padre Roma até desaguar no Floripa Music Hall e se findar lá pelas bandas da Noite, onde as linhas são da cor do entusiasmo do amante notívago. Caminhar por sobre a linha azul (do seu início ao fim) exige silêncio, certo luto. Sim, luto. O que dirá uma linha azul? Quem traçou uma linha azul no centro histórico de Florianópolis? A linha que perfaz todo este trajeto é uma intervenção urbana do artista contemporâneo Piantan Lube Moreira. É ou se pretende, portanto, uma obra de arte. O artista da cidade de Vitória, Espírito Santo, veio a Florianópolis sob a curadoria do arquiteto e ativista político-cultural César Floriano. O azul instalado sobre cimento demarca o aterro que assoalhou as águas do mar. Sim, aterro. A proposta de uma faixa azul no centro da cidade é justamente para provocar um olhar: o cimento sobre a terra: a terra sobre o mar: o que ganhamos? O que perdemos? O azul acusativo está a nos dizer o quanto invadimos do espaço dos peixes, dos caranguejos, das gaivotas e das pequenas vidas marinhas. Não é de estranhar a escassez cada vez maior da presença deles. Uma avenida aqui, um prédio ali, um centro de convenções acolá, uma boate mais à frente, uma rodoviária: tudo no mais duro concreto suturando a terra que expulsou o mar de sua origem. O dramaturgo e poeta alemão Bertold Brecht disse em um de seus versos: “Do rio que tudo arrasta se/ diz que é violento/ Mas ninguém diz violentas as/ margens que o comprimem”. O autor de Mãe coragem e Os fuzis da senhora Carrar não vive para ver o que se passa em Agudo, Angra, Haiti. Nós ainda saberemos do azul que corre concreto afora e de outras cores sem luz. Estranha-me muito que pouco tenha se falado desta linha azul escancarada no centro de Florianópolis. Pois o movimento de arte contemporânea aqui é forte e temos representantes e espaços que, cada vez mais, ganham projeção Brasil afora. É o caso da galeria Arquipélago, da galeria Arco, dos artistas Fernando Lindote, Júlia Amaral, Carlos Asp... Esta faixa exposta há dois meses, parece invisível, tão invisível quanto o mar que o cimento comeu, que a terra comeu e que um dia há de reaparecer em algum lugar ainda não sabido. A faixa “azul da cor do mar” nos leva a suspeitar o incolor.
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