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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Poema de Cristiano Moreira

O poema como fio de estopa


“Por que é que nunca param de escrever?

Não sei – Penso que escrevem por sofrer,

Vivem por dentro em vez de só viver”

Abgar Renault

O fio de estopa emaranhado,

estampa da lacuna e da memória

tece a historia sem fim da história.


O fio do poema estica o lastro

da pele que expande e nos finca

no agora da infância. Mudos

em uma fração de aurora moramos

no tempo do instante e quando

olhamos novamente sofremos.


O corpo inopera o solilóquio do tempo.


O fio do poema é o tempo gravado

inteiro no corpo, a palha de estofo

que estufa o espantalho vestido

à caráter para a viagem interminável

da lembrança. O fio de estopa esconde

que todos tem avacalhado novelo no peito.


Ninguém passa impune a infância.


O corpo todo retido na margem da pele

é conjunto de linhas, de fios que se falam,

se esfoliam e assim modificam o esboço.

O fio é fio ainda ao deixar de ser moço,

é fio ainda que o respiro pare e sobre

em outra memória nosso desenho tosco.

Lages

Fevereiro 2010.

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