O poema como fio de estopa
“Por que é que nunca param de escrever?
Não sei – Penso que escrevem por sofrer,
Vivem por dentro em vez de só viver”
Abgar Renault
O fio de estopa emaranhado,
estampa da lacuna e da memória
tece a historia sem fim da história.
O fio do poema estica o lastro
da pele que expande e nos finca
no agora da infância. Mudos
em uma fração de aurora moramos
no tempo do instante e quando
olhamos novamente sofremos.
O corpo inopera o solilóquio do tempo.
O fio do poema é o tempo gravado
inteiro no corpo, a palha de estofo
que estufa o espantalho vestido
à caráter para a viagem interminável
da lembrança. O fio de estopa esconde
que todos tem avacalhado novelo no peito.
Ninguém passa impune a infância.
O corpo todo retido na margem da pele
é conjunto de linhas, de fios que se falam,
se esfoliam e assim modificam o esboço.
O fio é fio ainda ao deixar de ser moço,
é fio ainda que o respiro pare e sobre
em outra memória nosso desenho tosco.
Lages
Fevereiro 2010.
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