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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Uma crônica de Marco Vasques


UNS CASAMENTOS


Devo dizer que não sou desses cronistas mentirosos que fingem discrição e só escutam a conversa alheia por acidente. Não! Eu vou logo colocando as antenas em ação quando vejo um diálogo. Este começou assim:
- Vou me casar com a Maria!
- Mas... Não podes casar com a Maria!
- Como assim! Combinamos ontem, durante o intervalo, que iríamos nos casar no sábado.
- És um tolo mesmo!
- Inveja! Juro que estás te roendo por dentro. Só porque a Júlia não quis....
- Eu não estou interessado na Júlia. Ela faz parte do passado. Agora estou investindo na Ana. Os olhos de Ana são mais atraentes e sua voz menos estridente que a de Júlia. E mais: Ana tem charme superior ao de Júlia. Ela lembra um pouco aquele poema do Vinícius de Moraes, não acha? A professora Rose adora ler o poema para nós. Ah! A professora Rose! Que mulher! Que voz!
- A professora Rose!
- Sim! Uma mulher e tanto.
- E Júlia e Ana?
-Ah!
- Tu falavas do interesse por Ana e do teu suposto desinteresse por Júlia!
- Certo, mas a imagem da professora Rose entrou direto. Sabes como acontece? De repente a imagem da mulher entra pelo olhar e o corpo todo começa a responder.
- Mas a Júlia é muito mais bonita. Ah! Que pernas! Que andar!
- Pare com isso! Estás ficando maluco! Ana é mais bela que Júlia que perde para professora Rose. Ah! Eu estou confuso. E a Maria?
- O que tem a Maria?
- Vais casar mesmo com ela?
- Está tudo combinado! Vai ser lindo. Já estou vendo a doce Maria deitada em meus braços.
- Mas tu és mesmo um rapaz iludido, ela namora o Roberto!
- E daí, ela namora o Roberto e vai se casar comigo.
- Tu sabes por que ela vai se casar contigo, não sabes?
- Claro que sei.
- Por quê?
- O Roberto...
Neste ponto da conversa o diálogo é interrompido. O ônibus para e os dois meninos saem mudos. Segui viagem meio aturdido e sem resposta à pergunta. Confesso que aquela conversa dos garotos, ambos não tinham mais que quatorze anos de idade, fez-me recordar uma antiga namorada. Onde andará a Andréia e por que diabos ela não quis casar comigo mesmo?

2 comentários:

Deborah O'Lins de Barros disse...

a-do-rei!!!
também ouço conversas em ônibus :-) já me renderam crônicas, contos e algumas coisas engavetadas.

abraço e continue "carpando" seu diem :-)
Deborah

Marco Vasques disse...

Obrigado querida, obrigado!