...

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

FESTIVAL CATARINENSE DE TEATRO 3



por marco vasques


O Festival Catarinense de Teatro tem apresentado ao público da cidade de Brusque a diversidade do teatro do estado. São múltiplas formas, gêneros e estéticas espalhadas pelos palcos, escolas e ruas. A qualidade dos trabalhos obedecem a mesma multiplicidade, já que o evento reúne grupos diversos (profissionais, amadores, inciantes). Ontem o grupo teatral Panacéia [São Bento do Sul] apresentou Baião de 2. O espetáculo se propõe passar pelo vasto e complexo universo cultural nordestino. Tenta girar em torno das manifestações populares [oral e escrita] da cultura das letras nordestinas [cordel, trava língua e a poesia matuta]. Cícero e Geraldino são interpretados pelos atores Rafael Rodrigues e Rafael Padawan num cenário simples [um biombo, um banco e uma maleta] onde toda a ação acontece. Fazer uma reflexão sobre este trabalho exige cuidado porque são muitas as questões que me perseguem após a saída do teatro. Por que colocar um espetáculo desta natureza num palco italino? Por que submeter os atores a tal sacrifício se a estrutura do trabalho foi nitidamente pensada para a rua? Se a dramaturgia parece querer caminhar pelo universo da poética do Patativa do Assaré, do cordel e trava língua por que o grupo não explora a poesia do repente, da embolada ao universo proposto? Por que se utilizar de clichês televisivos para tentar arrancar o riso do público? Por que a narrativa gestual não busca um diálogo com o universo e as formas poéticas citadas superficialmente pelo grupo? Por que começar e terminar com Patativa do Assaré [em off] falando seus versos se a dramaturgia textual caminha para outra direção? Faço todas estas perguntas porque existe uma poesia latente que poderia explodir e invadir o público com o encantamento e com a beleza existentes no cancioneiro nordestino. É preciso fugir dos esteriótipos e dos clichês para se chegar à poesia. É preciso! É preciso mergulhar profundamente no som, no ritmo, na dor e no silêncio das palavras dependuradas no sonho desta nossa gente cantante. Por isso, ao término do espetáculo, fica a sensação de que se foi apenas à superfície e de que o trabalho precisa de um longo percurso para atingir a profundidade do homem assolado pela fome, pela seca e pelo preconceito beligerante de um burguesia hipócrita, brurra e brega! Falta ao grupo pesquisa e uma dramaturgia compatível à proposta explicitada. O diretor Robson Rodrigues terá muito trabalho pela frente! Muito!

Um comentário:

TRAÇO CIA. DE TEATRO disse...

tô esperando os comentários do fulaninha! heheheheh
abração!
paula bittencourt