COMER, REZAR, AMAR (DOS POBRES)
Resolvo ir ao cinema fazer o que milhões já fizeram: ver “Tropa de Elite”. Dou de cara com uma “sessão esgotada”. Já que não tem Capitão Nascimento, vamos de Julia Roberts em “Comer, Rezar, Amar”. Tomada a decisão, prendi a respiração e fui. Não sem medo, afinal, a auto-ajuda reverberava no cartaz e em tudo o que eu sabia sobre o filme e o livro. O que dizer? Sempre tive pouca paciência para gente rica, bonita, bem sucedida e inteligente com crise existencial. É quase uma ofensa. Pois bem, Liz, personagem de Julia Roberts, está passando por uma crise existencial da profundidade de um pires, mas é uma crise, afinal, e precisa ser resolvida pois está lhe deixando muito infeliz, pobrezinha. O que a linda mulher faz, depois de se separar e de se envolver com um garotão mais jovem? Resolve se afastar da vida “triste” que vivia e tira férias de um ano para se encontrar. Um ano! Itália, Índia e Bali são seus destinos. O resto da história todo mundo já pode imaginar: nossa heroína passa por uma série de transformações, encontra o amor de sua vida e, presume-se, a felicidade eterna. O filme, claro, já foi deletado da minha mente assim que subiram os créditos, mas ficou algo martelando em mim: como um pobre mortal pode resolver sua crise existencial? Para isso, resolvi elaborar um roteiro a partir da minha realidade: Santa Catarina, partindo de Joinville. Primeiro, você vai precisar de três dias, então, pegue uma sexta-feira de folga, ou espere um feriadão. No primeiro dia, vá a Pomerode comer. Entre nas confeitarias, coma doces deliciosos, conheça descendente germânicos, gente animada, divertida, ria com eles, vá ao zoológico, almoce num restaurante típico, volte a outra confeitaria, coma chocolate, cucas, tortas alemãs. Sinta o prazer do paladar. Pomerode pode ser substituído por uma das dezenas de cidades simpáticas e europeias que Santa Catarina tem. No segundo dia, você vai até Nova Trento rezar no santuário da Madre Paulina. Passe o dia por lá: ore, medite, ajude umas velhinhas a descerem do ônibus e entrarem na igreja. Concentre-se, você precisa descobrir o seu eu interior. Se conhecer alguém que tenha uma história triste e que está superando isso pela fé, melhor. Chore se for preciso. Lave a alma. Sendo uma pessoa alimentada e espiritualizada, você estará bem mais apta ao terceiro dia. Terceiro dia, o destino final: Florianópolis. Você tem um dia para passear por praias belíssimas, curtir o sol, flertar. Como as boas energias estarão todas voltadas para você, é bem provável que você encontre o amor de sua vida num esbarrão qualquer: pode ser na Joaquina ou na Praia Mole. Mas se você tiver realmente sorte, vai ser em Jurerê Internacional. Daí é só agarrar, não tenha ainda dúvidas como a sonsa da Julia Roberts, aproveite! Se isso não acontecer, volte para a sua segunda-feira como uma pessoa renovada, que precisa de bem pouco para ser feliz. Três dias bastam.
2 comentários:
Como sempre: inventivo. Porra Rubens, tu consegue tirar uma crônica até de "filmes" desse gênero. És um gênio!
hahaha. eu trocaria por Rio Grande e ia correndo comer um croassonho com o próprio Rubens. melhoria em kilos!!! beijos.
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