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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Artaud.



Artaud, no quarto escuro, relança sua alma para a tempestade que o criou, sua alma que é um Vesúvio. O Deus devia ser curado de continuamente criar anchovas, chuvas.

O ópio da palavra arrepia o tímpano do intruso: o escuro lava-se com a tempestade: tempestade que nunca envelhece. É difícil quando tudo nos leva a dormir, a fechar os olhos sem saber mais para que servem essas bagas de chuva debaixo das pálpebras fechadas.

O intruso vocifera:“Quero a arte agindo não apenas como reflexo, mas como força: uma força vital, que não se espelhe em nada”.

A palavra, então força ativa, que parte da destruição das aparências para chegar ao espírito. O intruso filosofa: “Alcançar plenamente o espírito, dizer a alma do ser humano, talvez fosse impossível”.

O vazio pode, se quiser, abandonar-se na rede da varanda: para vigorar em si um mafuá de malungo. Todo sentimento poderoso provoca em nós a idéia do vazio: a linguagem clara e lógica que impede esse vazio impede também que a expressão poética apareça no pensamento.

As ervas antes do vento: o antes antes do vento e das ervas: o vento e as ervas mascaram o que desejariam desvelar: “A linguagem clara e lógica inibe o vazio”.

A própria impossibilidade é uma phonte criativa. O intruso recita Fernando Pessoa: “O quem em mim sente está pensando”.

É por dentro da chuva que ele anda.


Fernando José Karl

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