Após a morte de Lima Barreto - o criador da República dos Brunzundangas - em 1922, nunca mais se teve notícias daquelas plagas. Em Brunzundangas os assuntos mais importantes são debatidos à exaustão. Economia, cultura, política, enfim, nada escapa à população politizada. A coisa é tão séria que até uma simples fofoca é capaz de gerar teses e derrubar ministros. Sim, Brunzundangas é uma terra de doutores e agregados políticos.
Nesta semana recebemos informações da importante república, porque a assembleia dos piolhos cabeludos, há muito esperada, finalmente aconteceu. A pauta da reunião foi amplamente divulgada nos meios de comunicação. Os piolhos cabeludos se uniram para uma revolução contra as barbearias que, de súbito, passaram a deixar toda a população careca. Fato, claro, muito cabeludo. Sem as cabeças e seus cabelos, os piolhos cabeludos passaram a abrigar toda casta de piolho em suas próprias cabeleiras e se tornaram alvos fáceis de toda sorte de predador.
A confusão estava generalizada porque piolhos de elefante, de aves, de cachorros, gatos, urubus resolveram, ainda que satisfeitos com os seus mundos, fazer uso da democracia bruzundanguense e participar da famigerada reunião. Encontro, diga-se de passagem, muito bem articulado para que uns poucos piolhos decidissem por toda a classe, por isso o tumulto, já que habitantes de pelos distintos, seriam profundamente afetados pelas decisões do grupo que se intitulava Frente da Defesa dos Capilares.
Lá pelas tantas, o já conhecido Piolho Porrilo, muito conhecido por defender causas culturais, mas igualmente conhecido por nunca ter sido visto no teatro, no cinema, na livraria ou em qualquer outro equipamento cultural de suas calorosas defesas, decide propor a criação de um frente recolhedora dos cabelos injustamente decepados pelos Edwards espalhados pela república. Porrilo, que se apossara do púlpito, faz sua digestão sanguínea invalidando todas as ações de Brunzundangas nos últimos 90 anos e diz que somente a junção da cabelada, distribuída em bolsas e bolsões de habitação, aniquilaria de uma só vez o problema criado pelas barbearias do país.
Porrilo fala em nome da classe, do setor. Diz ter a solução pronta para endireitar o crescimento de cabelos e, caso sua estratégia não funcione, já possui autorização do partido tributarista de piolhos para mandar confeccionar perucas e distribuir como forma de incentivo à reagregação dos piolhos. Conta-se que o povo de Brunzundangas delirou com tal inteligência e que todos os jornais noticiaram o feito.
MARCO VASQUES
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