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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um poema de Cristiano Moreira

O BÊBADO NO BARRANCO




lá no remanso onde o barro dorme imundo
anda a esmo um corpo fino em duas pernas
tortas, afunda o olho seco e moribundo
sobre os traços da mão oca nada enxerga.

mas este ócio que é órbita do olho
desembala correnteza em mil desastres
um ruidoso rio em curva, cão sem soalho.
o olho solto que produz mais disparates

está no rio que alimenta tantos tontos
ressoa ecos destes ocos esquecidos
como badalos dos silenciados sinos.

o rio se estica em palavras, em outros becos
em outras bocas como leitos sorridentes
e desemboca em barroca aguardente.

2 comentários:

Dennis Radünz disse...

Cristianíssimo, mandei calafetar o poema e ele voltou com dois ou três vazamentos a menos (veja se o breu preenche as frestas):

(...)

cão sem soalho, ruidoso rio em curva /
um olho solto que produz mais disparates.

nesse rio que alimenta tantos tontos /
ressoam ecos desses ocos esquecidos/
nos badalos dos silenciados sinos

(...)

Profº. Cristiano Moreira disse...

denisíacas marteladas. parece até outra divindade.creio que ganha em imagem sim, mas penso que perde um pouco no exercício da metrica, ainda por lapidar. em todo caso, no último verso poderia ser

"nos badalos dos já silenciados sinos"

mais disparates também é melhor que 'tais' disparates.

vejamos o que fazer.

o calafate aqui agradece o remendo
acho que o barco navegará melhor.

abraço