Acendo a luz num quarto escuro; é um fato que o quarto iluminado já não é o quarto escuro, que perdi para sempre. E no entanto: não será aindo o mesmo quarto? Não será o quarto escuro o único conteúdo do quarto iluminado? Aquilo que não posso ter, aquilo que, ao mesmo tempo, recua até o infinito e me empurra para diante, não é mais que uma representação da linguagem, o escuro que pressupõe a luz; mas se renuncio a captar esse pressuposto, se volto a atenção para a própria luz, se a recebo - então aquilo que a luz me dá é o mesmo quarto, o escuro não hipotético. O único conteúdo da revelação é aquilo que é fechado em si, o que é velado - a luz é apenas a chegada do escuro a si próprio.
In. A ideia da Prosa - Giorgio Agamben. Lisboa: Cotovia, 1999.
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Quando pensamos em falar um poema, quando pensamos um poema, estamos acendendo a luz de um quarto escuro. A entrada em um poema pode ser pensada como a entrada em um cômodo, por vezes in-cômodo pois, ao chegar até o poema, estaremos nos distanciando do Sentido, que é para muitos, o quarto iluminado. Mas ao chegarmos ao poema, ao ancorarmos nossos olhos sobre este corpo, e nos aproximarmos deste insulamento, empreenderemos uma aproximação ao escuro da linguagem, porque a linguagem nunca é. Ela sempre nos lançará a outro lugar e a outro e a outro, fazendo que aquele Sentido (outrora tido como luz), seja a disseminação dos fótons. Ao percorrermos estes caminhos do disseminado, estaremos de certa maneira percorrendo espaços vazios que ligam as partículas de luz. Ler um poema, portanto, pode ser cursar este caminho no escuro que empurra a luz aos nossos olhos.
In. A ideia da Prosa - Giorgio Agamben. Lisboa: Cotovia, 1999.
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Quando pensamos em falar um poema, quando pensamos um poema, estamos acendendo a luz de um quarto escuro. A entrada em um poema pode ser pensada como a entrada em um cômodo, por vezes in-cômodo pois, ao chegar até o poema, estaremos nos distanciando do Sentido, que é para muitos, o quarto iluminado. Mas ao chegarmos ao poema, ao ancorarmos nossos olhos sobre este corpo, e nos aproximarmos deste insulamento, empreenderemos uma aproximação ao escuro da linguagem, porque a linguagem nunca é. Ela sempre nos lançará a outro lugar e a outro e a outro, fazendo que aquele Sentido (outrora tido como luz), seja a disseminação dos fótons. Ao percorrermos estes caminhos do disseminado, estaremos de certa maneira percorrendo espaços vazios que ligam as partículas de luz. Ler um poema, portanto, pode ser cursar este caminho no escuro que empurra a luz aos nossos olhos.
6 comentários:
Lendo o texto, lembrei: “... Então sai ao corredor para jogar o lixo
e atrás de mim, por uma corrente,
a porta fechou.
Fiquei sem chaves e às escuras
sentindo as vozes dos vizinhos
através de suas portas.
É transitório, disse-me;
mas assim também poderia ser a morte: um corredor escuro,
uma porta fechada com a chave dentro, o lixo na mão.”
Introdução a meu conto "O corredor".
Parabéns pelo Blog!
obrigado pelo comentário.
como posso ler o conto? a lasca ou isca é boa.
grande abraço.
cristiano
Cristiano... O conto está publicado no meu livro "Borges e outras ficções", e também registrado no meu Blog "Escritos do Gabriel". Para ler particularmente "o corredor" veja:http://escritosdogabriel.blogspot.com/2009/12/o-corredor.html
Obrigado e abraço!
oi gabriel
agora creo que recuerdo hombre!!
estivemos conversando umpouco em jaraguá do sul lembras?
o schroeder nos apresentou, aliás estaremos juntos em lages nesta quinta.
grande abraço
cristiano moreira
Sim Cristiano, eu lembrei... alias, acredito que era vc que não sabia de mim... abraço.
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