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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Severo Sarduy e Franz Kline


Franz Kline
Wax wing - 1961

Da Série Páginas em Blanco
(Cuadros de Franz Kline)

Severo Sarduy

Não há silêncio
senão
quando o Outro
fala.
(Branco não:
cores que fogem
pelas margens).
Agora
que o poema está escrito.
A página vazia.



Trad. Cristiano Moreira

(No hay silencio/sino/ cuando el Otro/habla./(Blanco no:/ Colores que se escapan/ por los bordes). Ahora/ que el poema está escrito./ La página vacía.)

Esta série de poemas foi originalmente publicada no número 23 da revista Tel Quel em 1965 e, posteriormente, reunidos em Big Bang, livro de 1974.

8 comentários:

Anônimo disse...

Cristiano, muito legal tua tradução: só duas coisas: a palavra sino, após o silêncio, tem uma função específica no poema em espanhol do Severo: sino seria o objeto sino e também o senão.

Eu prefiro bordas à margens, porque o Severo era um tecelão, um vordador barroco da pérola jazzística.

Abraço

Karl

Profº. Cristiano Moreira disse...

Karl

agradeço suas considerações. importante a duplicidade da palavra sino no poema, difícil resolver, entretanto, vale o exercício. preferí margens por questão sonora
tão barroca quanto, creio eu, tanto quanto pensar no esvaziamento de um rio, a página vazia.

grande abraço

cristiano.

Gabriel Gómez disse...

Cristiano... Com um poema aparentemente tão simples, alguém já discordou da sua tradução... Imagina no meu caso... Vivo traduzindo mentalmente... Não concordo quando o comentário questiona "sino"... Parece aquilo que "para que podemos facilitar se podemos complicar..." Para mim, sino em espanhol é "senão", como você muito claramente colocou...
A segunda palavra é uma escolha pessoal... Justamente estou lendo um livro que trata sobre Borges e a tradução... Cada cabeça, uma sentença... Seria a poesia traduzível? Publiquei em janeiro, uma nota referente a isto no meu Blog. Abraço e parabéns.

Marco disse...

Gabriel, é um prazer imenso tê-lo em nosso blog. Suas sugestões e opiniões são importantes, contudo discordo da maneira como colocou suas observações em relação ao comentário do Fernando Karl (um escultor do vento em filigranas máximas). Não se trata de complicar, mas de poetizar. É justamente por isso que o poema "aparentemente tão simples"
resulta em uma discussão, que deve ser sempre saudável. Quando ao conteúdo tendo a concordar contigo, posto que a palavra em espanhol mais usada para o objeto sino é campana.

Gabriel Gómez disse...

Obrigado Marco. Quando disse de "complicar" é referindo-me a como traduzir a poesia? Justamente o texto publicado no meu blog. Claro que acredito na discussão salutar da palavra, sua força e desdobramentos no poema... É que justamente estava editando a opinião do poeta, romancista e matemático Jacques Roubaud, no número de janeiro do "Le Monde Diplomatique Brasil", citado no texto FIM DO PAPEL, FIM DA POESIA, na última edição do jornal literário “Rascunho”. Ele questiona se chegamos ao tempo de poetas escrevendo "difícil" para poetas e sendo lidos, entendidos (?), apenas por poetas?
Justamente quando li este poema "fácil", de tradução eficiente pelo Cristiano, achei engraçado querer também outros significados (na verdade cada vez lembro menos meu espanhol...). Mas, acredita, qualquer debate é belo e necessário. Soma e enriquece.
Novamente obrigado e meus respeitos e admiração aos Singulares.

Marco Vasques disse...

É isso aí amigo. Eu recebi um livro seu por mãos da Regina Carvalho. Vou ler e depois comento. No mais estamos aí para discutir mesmo, mas sem perder a delicadeza. Sigamos, pois!

Gabriel Gómez disse...

Marco...Mais uma coisa: acredito que não tinha me feito entender mesmo, já que gosto e admiro tanto os "Singulares", que agradeço o privilegio por dois deles estar no próximo livro "Cerimônias do Silêncio".
Abraço e obrigado pela troca.

Marco Vasques disse...

Belo titulo.