Todo homem deveria, em algum momento da vida, tocar e investigar seus silêncios. Estamos, obviamente, falando com exclusividade do sexo masculino, já que as mulheres são imensos mistérios de silêncios. Mulheres estão mais próximas dos gatos, dos sofrimentos mudos. Nós, homens, quase sempre, somos mais próximos dos cães, isto é, estabanados, bobalhões, barulhentos e sempre sorrindo para o primeiro carinho que aparece.
Há uma passagem no livro “Cem Anos de Solidão”, do colombiano Gabriel García Márquez, que exemplifica o que queremos dizer com investigar os silêncios. A matriarca da família Buendía, ao tirar as roupas de toda a família de um enorme cesto, começa a se indagar: por que somente ela coloca as mãos na sujeira da família? Por que só ela vai aos dentros, às fronteiras das gentes da sua casa? Por que coube a ela a tarefa de agarrar a tensão e os silêncios?
Não sabemos porque certas mulheres carregam nos olhos o tormento de toda uma geração. Evidente que também conhecemos homens tão tristes que temos vontade de dizer algo para aplacar a afeição transtornada. Geralmente são os iguais que se encontram. Um homem triste reconhece outro homem triste. Eles passam um pelo outro e nada precisa ser dito.
No entanto, isso parece ocorrer com mais frequencia entre as mulheres. Aos homens, alguns exercícios domésticos, por exemplo, podem ajudar no enfrentamento com o silêncio. Todo homem deveria, num certo dia, retirar todas as roupas do guarda-roupas, olhar para o móvel vazio e, depois lavar peça por peça, pensando nos itinerários que o corpo fez com cada uma das roupas, refletir sobre os motivos das escolhas de cada peça.
Fazer uma faxina na casa, quando todos estiverem fora, é outro modo de buscar uns vazios. Entrar no quarto do filho, da filha, do entiado, do filho adotivo, do neto. Pensar no silêncio que as ausências provocam. Lavar umas louças, ir ao mercado sozinho, fazer escolhas para o seu coletivo, pensar mais nos gostos dos outros, tentar entender os silêncios todos de sua casa. Levar o filho para cortar o cabelo, para a escola.
Enfim, aos homens, o exercício de se ocupar, com afinco e dedicação, das coisas da casa, e das vidas de suas vidas, pode levar a descobertas insuspeitas. Pode levar a revelações que tragam o silêncio à mesa, olhares cúmplices que se amarão nuamente, à percepção das tristezas, das alegrias, e sobretudo, perceber a simples presença do outro. E se antes das palavras ásperas, dos gritos e das agressões tentássemos agarrar os silêncios dos outros, agarrar os desejos fora dos nossos desejos?
MARCO VASQUES
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