Ela: loira, bonita, cabelos longos e porte físico de diva. Não tem filhos e deve ter uns 23 anos. A julgar pela suas ideias e falas não frequentou muito a escola, não leu meia dúzia de livros e pouco sabe de arte, ciência ou política. Mas entende de sexo. Sim. Exerce a profissão milenar de oferecer aos homens suas coxas, lábios, ventre e entranhas. Sabe distinguir suas relações.
Ele: uma penumbra em nossa ideia, mas a julgar pelos relatos dela tem tipo físico apolíneo e algum conhecimento sobre as partes anatômicas das mulheres. Ele também exerce a profissão dela. Embora o serviço que ele preste pareça ser uma novidade dos tempos contemporâneos, existem relatos que provam o contrário.
Ele e Ela, dada as circunstâncias, jamais se encontrariam, pois quem pagaria a quem? Eles, como se costuma dizer por aí, são a oferta, não a procura. Então, pelo princípio básico do mercado, não são compatíveis juntos. Mas o amor ultrapassa questões de mercado. Encontram-se finalmente. Ele e Ela conversaram, sorriram, falaram de suas profissões, despreocupadamente, e se apaixonaram.
Daí ao casamento foi um pulo. Em 3 meses estavam morando juntos, devidamente casados. É preciso dizer que o casamento, para ambos, sempre pareceu algo meio anti-higiênico. O casamento e sua moral canhestra nunca fora o sonho de ambos, mas cederam ao convencional. E lá estavam eles curtindo nova vida, com a vida antiga em plena atividade, é claro!
As conversas sempre girando em torno da profissão. Quantos homens hoje? Eram legais? Feios? Bonitos? Carinhosos? Sabe que o mínimo de carinho tem que ter porque se não fica insuportável nosso trabalho, dizia Ele. Ela confirmava e fazia as mesmas perguntas. Depois faziam amor sem culpas e sem devaneios moralistas. Dormiam e, no outro dia, tudo novamente.
Até que Ela começou a perceber que todos os seus clientes eram casados. Todos, sem exceção. E o pior: quando estavam com Ela atendiam seus telefones e davam as desculpas mais estapafúrdias: “estou no Mercado Público tomando uma cerveja com o João”, “amor, estou tomando café com o João”. E era o pobre do João quem pagava o pato, sempre.
Sábado, pela tarde, Ela liga para Ele. Ele, tímido, responde: “querida, estou batendo uma bolinha com o João”. Quando chegou em casa, sem entender absolutamente nada, suas malas estavam todas na rua e a porta cerrada. Um bilhete dizia: “não aceito traição”. Nunca mais se viram. Ela vive dizendo aos seus clientes: “não acredito em uma só palavra de vocês, são todos iguais, que droga!”.
MARCO VASQUES
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