Os gregos, na antiguidade, não tinham medo da morte física. A morte corpórea para eles nada significava diante da glória de ser cantado por Homero. O que perturbava um herói grego era o esquecimento absoluto após a morte, a não lembrança dos seus feitos e da sua coragem. É a partir dessa necessidade de prolongar a vida que os gregos inventam a mitologia, a guerra, a política, a tragédia, o ditirambo e a filosofia. Nietzsche, o homem-dínamo, desnuda essas características dos gregos em “O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e Pessimismo” e “A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos”.
Os tempos mudam. Vivemos na sociedade do descartável, do hic et nunc(aqui e agora). Jogadores de futebol e músicos de uma só nota se aglomeram nos meios de comunicação e a imprensa insiste em fazer deles deuses das multidões. Estamos na época das celebridades sem cérebros.
E os poetas, antes responsáveis por eternizar o mundo, agora são os primeiros a serem esquecidos. Passado mais de um mês da morte do poeta Mauro Galvão, tudo transcorre no mais absoluto silêncio e nada se diz acerca de sua obra. Mas o autor de “As Idades da Pedra”, “Sincretinismo” e “Pronome de Caso Clínico” ainda há de encontrar sua maior honra: leitores que se amasiem com seus poemas e descubram suas traduções deCharles Bukowski, Lewis Carroll e Alejo Carpentier.
O poeta Mauro Galvão, que escolheu a cidade de Blumenau para viver, já intuía o que estava por acontecer em um de seus poemas: “há aqui/só um silêncio que machuca e amarga/uma rosa-dos-ventos dos rumos mal rumados/um silêncio violento/da mesma medida amarga de quem/na vigília ansiosa espera/que o inimigo nunca venha”. Infelizmente, Mauro, “a indesejada das gentes” chegou e te levou. O inimigo veio.
Há um ditado que diz que um homem morre três vezes: a primeira quando morre, a segunda quando é enterrado ou cremado e a terceira quando seu nome é pronunciado pela última vez. Contra as duas primeiras mortes nada podemos fazer; contudo, ainda que tudo nos seja desfavorável, a terceira não há de alcançar o poeta Mauro Galvão.
Como teus próprios versos dizem, Mauro, “que podem as mãos/na fagulha desse tempo de escuridão?”. Resta-nos voltar aos gregos e mostrar ao mundo o teu canto. Agora, se um cão de madame é roubado na Beira Mar Norte, todos os jornais e telejornais noticiam. Fazem tanto barulho, que o próprio ladrão, arrependido do ato, devolve o animal para não mais ouvir repórteres e jornalistas mergulhados em hipóteses ridículas. Talvez, um retorno à Grécia, para construir um Prometeu liberto, seja a saída.
MARCO VASQUES
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