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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

EMBAIXO DOS TRAPICHES NAS MARGENS DO RIO ITAJAÍ AÇÚ

quantos passos eu teria contado até chegar ao cargueiro panamenho
quantas linhas de solda seriam preciso para juntar a pele de seu dorso

a ilusão insone de sua respiração pausada na casa de máquinas
seus andares de tubos até a direção de tudo sua madre do leme

de longe ainda debaixo dos trapiches onde os velhos jogavam seus puçás
eu temia o corpulento navio panamenho e sua hélice de garra cortante

temia que as amarras pudessem estourar e nada o deter de sua força
como um gordo bêbado caindo sobre as mesas de um puteiro

estava ali parado e era dia e eu podia correr e fugir desse desastre
estava ali preso nos cabeços do cais enterrado no lodo desta cidade

esse terror da figura negra do navio e suas sombras dançantes na água
de sua cor na noite de pequenas luzes contra os contornos da igreja de navegantes

das carteiras de cigarros camel jogadas do bordo pelos marinheiros noruegueses
dos trilhos dos guindastes e da vida subterrânea da estiva e do contrabando

esses eram os passos medidos até eu chegar perto do cargueiro panamenho
ter coragem de passar a mão no seu costado e sentir suas cicatrizes de soldas

um animal submergível na água uma cidade marinha flutuante de perto tanto medo
pendurado de bandeiras como um continente uma ilha que de longe sempre me pareceu tão linda

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