...

quarta-feira, 10 de março de 2010

Uma crônica de Rubens da Cunha

AS PULSEIRAS

A onda das últimas semanas foi a polêmica em torno das pulseirinhas do sexo. Polêmica suscitada em muito pelos vereadores de Navegantes, que resolveram proibir o uso das pulseiras nas escolas. Obviamente, os vereadores de outras cidades, Joinville inclusive, já se asseveraram donos da verdade, da moral, dos bons costumes e estão criando projetos de lei que proibirão o uso das pulseiras. Como sempre, os políticos (assumo aqui a perigosa generalização) usam da tática de matar a vaca para combater o carrapato. Dão provas que sabem muito pouco da vida real, de como ela caminha bem mais embaixo do que pensam suas cabeças encasteladas nos gabinetes. Adolescentes vivem criando e destruindo moda. As pulseiras seriam apenas mais uma dessas modas que não resistiria ao primeiro semestre, mas que graças aos vereadores ganha ares de proibição. Pronto, criou-se um fato, criou-se um acontecimento que poderia ser resolvido no âmbito de cada escola, de acordo com as peculiaridades de cada escola que agora serão obrigadas a cumprir uma lei inútil e já datada, pois mesmo com toda a polêmica, essa brincadeira não irá muito longe. E quando os adolescentes criarem outros códigos, outros caminhos para comunicarem os seus desejos, o que farão os vereadores? Farão um upgrade da lei? No entanto, agora me limito a esse fato específico e me pergunto qual a funcionalidade de uma lei como essa? Quem fiscaliza? Quem pune? Qual a punição? Arrancar o braço fora? Prender o pai, a mãe, o professor que não conseguiu fazer com que os adolescentes parassem de usar tão ‘pernicioso’ objeto? Além de tudo, me parece que essa lei fomenta a hipocrisia: os adolescentes guardarão as pulseiras na bolsa e ao sair do colégio as colocarão de novo. Ou os nobres vereadores acreditam que as relações acontecem somente no pátio da escola? Que basta proibir o uso e num passe de mágica eles voltarão a ser meninos e meninas muito bem comportados? Haja paciência. Se os políticos são movidos a hipocrisia, a maioria das pessoas não é. Obviamente, não nego que temos um problema a ser enfrentado diante dos jovens que estão se relacionando sexualmente cada vez mais cedo de forma inconsequente. Mas é uma questão que envolve, sobretudo, a família. Se a família está desestruturada, individualizada, na mais profunda falta de diálogo, transferindo para a escola o seu papel fundamental de educar os filhos, não será com leis inúteis, que atacam um modismo, que a situação será resolvida, ou amenizada. Lembrando, que essa onda das pulseiras nasceu na Inglaterra, a rica e educada Inglaterra, o que demonstra que o problema é mundial e ultrapassa a condição finaceira ou educacional. É algo muito mais ligado ao comportamento da sociedade, algo que está em constante mutação e que político nenhum no mundo vai conseguir parar, por mais que eles queiram. Além disso, questões muito mais prementes, tais como o alcoolismo, as drogas, a falta de segurança nas escolas, não estão recebendo a devida atenção. Desencastelem-se senhores políticos, venham ver a vida real aqui embaixo e percebam que ela anda num compasso diferente daquele que vocês imaginam.

Um comentário:

ítalo puccini disse...

rubens cronista do cotidiano, como sempre muito coerente e observador.

ficou ótima!

abraço