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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Espetáculo Naviazgo en el Cemiterio


Por Marco Vasques
MAIS MÍNIMAS IMENSIDÕES NO FITA

O teatro tem dessas coisas: você abre duas portinhas. Coloca seu olhar dentro de uma caixa de Lambe-Lambe e nunca mais é o mesmo. O teatro é um rio, diria Heráclito. São inúmeras as surpresas que se pode ter em poucos minutos. São inúmeros os signos e as metáforas que carregam uma aparente pequena história de amor não concretizado. O espetáculo Noviazgo en el Cemiterio comprova minha fala acerca da companhia OANI: estamos diante de artistas construtores de mínimas imensidões. Impressiona o poder que o grupo chileno tem de fazer coisas tão diversas, tão simples e tão belas. Baseado na balada romântica do poeta português António Augusto Soares de Passos (1826-1860) o espetáculo tem uma narrativa bastante simples: o encontro de um homem com a amada num cemitério. Ambos estão mortos e saem de suas sepulturas para a consumação do afeto/amor. Após o ato de ternura eles se unem num só jazigo. Os esqueletos têm uma espécie de amor póstumo bem característico da escola romântica, onde um mundo paralelo resolve as impossibilidades terrenas. É o escapismo! Dizem os doutos. Luciano Bugmann levou um ano para montar o espetáculo, isto é, montar a caixa, o cenário, o figurino, os personagens, a luz, o som e a direção. Doze meses para harmonizar tudo em cinco minutos! Equilibrar o gótico, o tétrico até alcançar o lirismo, uma ternura que nos leva ao universo ultra-romântico criado pelo poeta. Escandir cada objeto, cada mínimo. O resultado? Lembro do Julio Cortázar tentando definir o que é um conto. Ele diz que um conto é perfeito quando alcançar a exatidão de uma esfera. Porque a esfera é uma sucessão de esferas, um intenso devir indevassável. Noviazgo en el Cemiterio devassa nossa ossatura; é esfera, mas acima de tudo pérola-poro. Quando, um dia, me restar uns poucos minutos: quererei guardar meus olhos dentro de uma caixa [Lambe-Lambe] cheia de poesia.

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