COPA, JOGO, SUPERFATURAMENTO
Talvez a solução para o trânsito das cidades seja os jogos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo. Pelo menos para mim e mais meia dúzia de “anormais antipatriotas” que resolvem se movimentar pelas ruas justamente quando a grande maioria é puro recolhimento para assistir o jogo. Futebol é algo que ataca frontalmente minha paciência, e quando ele vem concentrado em Copa do Mundo, o ataque é consideravelmente maior. Na verdade eu gosto mais do entorno. Nesta Copa tá muito divertido os “cala bocas” promovidos pela internet; os “mimimis” do técnico brasileiro com a imprensa; o ódio generalizado com a tal vuvuzela; a volta por cima, por enquanto, do Maradona; a incapacidade da organização desse esporte em utilizar a tecnologia para averiguação de gols e lances duvidosos em nome da paixão, da imprevisibilidade que diferencia o futebol dos outros esportes. Também gosto muito daqueles dois ou três minutos que resumem o jogo. Acho que falta ao futebol é concisão e os editores dos melhores momentos provam sempre isso após cada jogo. E o jogo em si é algo que me enfastia. Quer dizer, nem tanto o jogo que, igual a novela, pode ser assistido enquanto se faz outra coisa mais interessante, como jogar cartas, cozinhar, fazer arquivos pessoais, limpar a casa, navegar na internet, mas aguentar o tal do torcedor convulsivo é complicado. No primeiro jogo do Brasil, um dos meus vizinhos extravasou de tal forma quando aconteceram os gols que, muito mais do que comemoração, me pareceu algo como uma parturiente com o filho atravessado no útero a 500 km do hospital. Era um tal desespero que chegou a dar medo. Se ele se comportou assim no primeiro jogo contra a Coreia do Norte, imagina como não deve ter sido nos jogos mais importantes para o Brasil. Tive a sorte de me ocupar longe de casa nos outros jogos, portanto não vi mais os urros desesperantes da criatura. E a brasilidade? As bandeiras nos carros? O patriotismo bissexto? Nem vou entrar no mérito da questão, da nossa capacidade de se articular e se comprometer com algo que não altera em nada a nossa vida, diante da contundente alienação brasileira frente a questões realmente importantes. Vai entender essa falta de foco. Também não quero parecer moralista ou dono da verdade, até por que eu não sou nenhum exemplo de comprometimento com causas sociais e políticas, mas é difícil negar a força de uma frase irônica como a de Danilo Gentili, quando afirma: “patriotismo de brasileiro é igual poodle de madame: só é solto de quatro em quatro anos e quando sai na rua se porta como débil-mental.” Tá quase acabando. Logo tudo volta ao normal e as duas horas de trânsito vazio serão apenas uma lembrança. Em 2014 será por aqui. Já estou fazendo um repositório extra de paciência, pois eu vou precisar. Tudo pode se repetir: a união e a força do brasileiro diante dos jogos, a desunião e a alienação diante das prováveis falcatruas que a promoção dessa Copa trará ao País. Tudo está se transformando em piada sem graça, como por exemplo: o Brasil deve faturar a Copa de 2010 e com certeza irá superfaturar a Copa de 2014.
2 comentários:
A piada é muito boa mesmo. Mas eu assisto os jogos do Brasil. Sem a emoção do teu vizinho, é claro. E é foda mesmo Rubens. Se o país se mobilizasse assim, por uma semana, apenas para reinvindicar melhorias urgentes: saúde, educação... estaríamos na Dinamarca, não na shakespeariana, posto que lá e aqui há muita coisa cheirando mal.
Abração
Muito bem escrita a sua crônica e concordo na íntegra, pois eu tb consegui andar por esta cidade durante os momentos do jogo e que beleza de trânsito livre. Quanto à mobilizaão, que ela não fosse apenas por esse motivo e sim por um despertar consciente...quem sabe o placar da vida..um dia ainda nos mostre isso. Abraços e parabéns
Postar um comentário