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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Grúas (outro lado)

quando avistamos equilibradas sobre a linha do horizonte, pareciam vindas de alguma tela de dalí, alguma perseguição paranóica ou alucinação de santo antão. mas não, não eram girafas ou cidade flutuante que se acoplaria em navegantes ou itajaí. aqueles braços de matéria dura eram a concretude da físis, a mimética ação em aço fundido vinda de um porto distante.como mais um dos ítens do idioma analítico de John Wilkins criado a partir de certa enciclopédia chinesa estes braços geométricos azuis foram trazidos para este outro porto aqui, de nossa antiga margem onde dormia um mangue sonhando carangueijos, guaxinins, preás e jovens que se dirigiam à divinéia (era assim que chamávamos) para um delito ou vício. namoros fortuitos, baseados, punhetas ou apenas um descanso antes de recolher as puçás torcendo por sirís.
quando avistamos as grúas entrnado a boca da barra era como se estivéssemos nos corredores de um castelo cortejando algum nobre aventureiro retornando depois de décadas de uma terra imaginária. talavez não passe mesmo disto, um andróide insone enviado de outra galáxia para recolher destas margens as riquezas produzidas em nosso estado. acordamos nos dias que se passaram e percebemos que estariam alí durante todo o tempo sem parar, estivéssemos dormindo ou viajando ou lendo ou mesmo sonhando. as grúas seriam e são a prova de que mesmo quando mergulhados em outra dimensão a cidade é distribuída pelo mundo.
quando as avistamos, essas grúas assemelhavam-se às femeas do Grou apenas pela altura, talvez pelas cores fortes, mas o encanto foi se perdendo, ao aproximarrem-se, quando sequer a víamos balançar com o mar, indiferentes ao baile de ondas e acabou, finalmente, quando percebemos que não sabiam dançar.

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