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terça-feira, 8 de junho de 2010

Um poema de Antonio Carlos Floriano

POEMA RECRIANDO ARY NAGEL

sopro de um cuspe em jejum
lava minha ferida
passo um pano e ateio fogo no braço
língua de aço na dor

palavra torcida no ferro da bigorna
na veia saltada do braço
do ferrador de cavalos
de rudeza cruel e olhos de sangue

esses eram eu
da mesma comida comíamos
dividíamos um quarto alugado
homens duros e devotos

eu me pergunto
qual dos dias tenho lembranças
qual estivador ou calafate eram realmente eu?

sempre que o outono desembarca nesse medrado de cais
surge a palavra impertinente
na boca das primeiras prostitutas a bordo


seria imperfeito trazê-las
presas nas tatuagens
dos marujosembarcados
famintos de saliva quente

essas memórias salvam os suicidas
os alcólatras irrecuperáveis
os maconheiros os putos os cheiradores

plantados no vento do cais do porto
longe da política pública de cargos e verbas
longe da infâmia e do conforto
erguem levantes a porrada

cuido de mim quando posso
a surdez parcial me assombra
tenho medo de ver o que realmente fui
cantor embarcado estivador calafate

Um comentário:

Anônimo disse...

Poemão.

Solivan