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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

1. Vi um funeral tão pobre, que não havia nem mesmo o morto no caixão. Quem vinha atrás chorava. Eu também chorava, sem saber porquê, no meio da névoa. Eu acordo de uma grande noite de sono e de sonho. Sabiam os gregos que o sonho é uma astúcia da vigília. Quando se estilhaça o espelho do significante e se penetra surdamente no evento da palavra.

2. Foucault pronuncia a frase: “A marca do escritor não é mais que a singularidade de sua ausência”.

3. Imre Kertész destila sua ramagem sábia: “Em meio ao grande ruído que nos rodeia, é fundamental criar um pequeno silêncio dentro de si para poder começar a pensar com serenidade, já que tudo começa no pensamento”.

4. Sonhei tanto, sonhei tanto, que não sou mais daqui. Escuto, no sonho, e todo sonho é uma astúcia da vigília, escuto algo pronunciar que eu devo ir às linhas de um poema intitulado Le bains de Caracalla.

5. O vazio da escuta – akuón – algo dispara a flecha, algo acerta o alvo. O cérebro não sabe a diferença entre o que está acontecendo lá fora e o que está acontecendo aqui dentro. Sabe-se que a máscara do espelho de ouro (ou o inconsciente) não é rígida, mas reflete o rosto que voltamos para ele. A hostilidade confere-lhe um aspecto ameaçador, a benevolência suaviza seus traços.

Fernando José Karl

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